Dom Pedro II (2 de dezembro de 1825 — 5 de dezembro de 1891), alcunhado o Magnânimo, foi o segundo e último monarca do Império do Brasil, tendo reinado o país durante um período de 58 anos. Nascido no Rio de Janeiro, foi o filho mais novo do Imperador Dom Pedro I do Brasil e da Imperatriz Dona Maria Leopoldina de Áustria e, portanto, membro do ramo brasileiro da Casa de Bragança. A abrupta abdicação do pai e sua viagem para a Europa
deixaram Pedro com apenas cinco anos Imperador e levaram a uma infância
e adolescência triste e solitária. Obrigado a passar a maior parte do
seu tempo estudando em preparação para imperar, ele conheceu momentos
breves de alegria e poucos amigos de sua idade. Suas experiências com
intrigas palacianas e disputas políticas durante este período afetaram
grandemente o seu posterior caráter. Pedro II cresceu para se tornar um
homem com forte senso de dever e devoção ao seu país e seu povo. Por
outro lado, ele ressentiu-se cada vez mais de seu papel como monarca.
Tendo herdado um Império no limiar da desintegração, Pedro II
transformou o Brasil numa potência emergente na arena internacional. A
nação cresceu para distinguir-se de seus vizinhos hispano-americanos
devido a sua estabilidade política, a liberdade de expressão zelosamente
mantida, respeito aos direitos civis, a seu crescimento econômico
vibrante e especialmente por sua forma de governo: uma funcional
monarquia parlamentar constitucional. O Brasil também foi vitorioso em
três conflitos internacionais (a Guerra do Prata, a Guerra do Uruguai e a Guerra do Paraguai)
sob seu reinado, assim como prevaleceu em outras disputas
internacionais e tensões domésticas. Pedro II impôs com firmeza a
abolição da escravidão apesar da oposição poderosa de interesses
políticos e econômicos. Um erudito, o Imperador estabeleceu uma
reputação como um vigoroso patrocinador do conhecimento, cultura e
ciências. Ele ganhou o respeito e admiração de estudiosos como Charles Darwin, Victor Hugo e Friedrich Nietzsche, e foi amigo de Richard Wagner, Louis Pasteur e Henry Wadsworth Longfellow, dentre outros.
Apesar de não haver desejo por uma mudança na forma de governo da
maior parte dos brasileiros, o Imperador foi retirado do poder num
súbito golpe de Estado que não tinha maior apoio fora de um pequeno
grupo de líderes militares que desejam uma república governada por um
ditador. Pedro II havia se cansado da posição de Imperador e se tornado
desiludido quanto as perspectivas do futuro da monarquia, apesar de seu
grande apoio popular. Ele não permitiu qualquer medida contra sua
remoção e não apoiou qualquer tentativa de restauração da monarquia. Ele
passou os seus últimos dois anos de vida no exílio na Europa, vivendo
só e com poucos recursos.
O reinado de Pedro II veio a um final incomum — ele foi deposto
apesar de altamente apreciado pelo povo e no auge de sua popularidade, e
algumas de suas realizações logo foram desfeitas visto que o Brasil
deslizou para um longo período de governos fracos, ditaduras e crises
constitucionais e econômicas. Os homens que o exilaram logo começaram a
enxergá-lo como um modelo para a república brasileira. Algumas décadas
após sua morte, sua reputação foi restaurada e seus restos mortais foram
trazidos de volta ao Brasil como os de um herói nacional. Sua reputação
perdurou até o presente. Os historiadores o enxergam numa visão
extremamente positiva, e ele é comumente considerado o maior brasileiro.
NASCIMENTO
D. Pedro II aos 02 anos de idade |
Pelo seu pai, o Imperador Pedro I, ele era membro do ramo brasileiro da Casa de Bragança e seu nome era precedido pelo honorífico "Dom" ("Senhor" or "Lorde") desde o nascimento. Ele foi neto do rei português Dom João VI e sobrinho de Dom Miguel I. Sua mãe foi a Arquiduquesa Maria Leopoldina da Áustria, filha de Francisco II, último monarca do Sacro Império Romano-Germânico. Pela sua mãe, Pedro era sobrinho de Napoleão Bonaparte e primo carnal dos Imperadores Napoleão II de França, Francisco José I de Áustria-Hungria e Dom Maximiliano I do México.
O único filho do sexo masculino legítimo de Pedro I a sobreviver a
infância, ele foi oficialmente reconhecido como herdeiro do trono
brasileiro com o título de Príncipe Imperial em 6 de Agosto de 1826. A Imperatriz Leopoldina morreu em 11 de dezembro de 1826, poucos dias após dar a luz a um menino natimorto, quando Pedro tinha um ano de idade. Pedro não guardou recordações de sua mãe, a não ser pelo o que depois foi contado a ele.
A influência e lembrança de seu pai também apagou-se com o tempo, e não
guardou fortes imagens de Pedro I, mas apenas algumas poucas e vagas
lembranças.
Dois anos e meio após a morte de Leopoldina, o Imperador casou-se com Amélia de Leuchtenberg. O Príncipe Pedro passou pouco tempo com sua madrasta; no entanto, eles criaram um relacionamento afetuoso e mantiveram contato até a morte dela em 1873.
O Imperador Pedro I abdicou em 7 de Abril de 1831, após um longo
conflito com a facção liberal (que por sua vez iria mais tarde
dividir-se nos dois partidos dominantes na monarquia, os partidos
Conservador e Liberal) dominante no parlamento. Ele e Amélia partiram
imediatamente para a Europa, onde Pedro I iria lutar para restaurar sua
filha Maria II, cujo trono em Portugal havia sido usurpado por seu irmão Miguel I. Deixado para trás, o Príncipe Imperial Pedro tornou-se "Dom Pedro II, Imperador Constitucional e Defensor Perpétuo do Brasil".
EDUCAÇÃO
D. Pedro II aos 5 anos de idade |
José Bonifácio foi destituído de sua posição em dezembro de 1833 e substituído por outro tutor. Pedro II passava os dias estudando, com apenas duas horas livres para recreação. Ele acordava as 06:30 da manhã e começava seus estudos as sete, continuando até as dez da noite, quando ia para cama.
Um grande cuidado foi tomado em sua educação para incentivar valores e
uma personalidade diferente da impulsividade e irresponsabilidade
demonstradas pelo seu pai. Sua paixão por leitura o permitiu assimilar qualquer informação. Pedro II não era um gênio, mas era inteligente e tinha grande capacidade para acumular conhecimento com facilidade.
O Imperador teve uma infância solitária e infeliz. A perda súbita de seus pais o assombraria por toda a vida; ele teve poucos amigos de sua idade e o contato com suas irmãs era limitado. O ambiente em que foi criado o tornou uma pessoa tímida e carente que enxergava nos livros um refúgio e ao mesmo tempo uma fuga do mundo real.
COROAÇÃO ANTECIPADA
D. Pedro II sendo coroado Imperador do Brasil |
A possibilidade de diminuir a idade em que o jovem Imperador seria
considerado maior de idade, ao invés de esperar até que completasse 18
anos de idade em 2 de dezembro de 1843, era levada em consideração desde
1835. A ideia era apoiada, de certa forma, pelos dois principais partidos políticos. Acreditava-se que aqueles que o auxiliassem a tomar as rédeas do poder estariam em posição para manipular o jovem inexperiente.
Aqueles políticos que haviam surgido na década de 1830 haviam se
tornado familiares aos perigos de governar. De acordo com o historiador
Roderick J. Barman, "eles haviam perdido toda a fé em sua habilidade
para governar o país por si só. Eles aceitaram Pedro II como uma figura
de autoridade cuja presença era indispensável a sobrevivência do país."
O povo brasileiro também apoiava a diminuição da maioridade, e
consideravam Pedro II "o símbolo vivo da união da pátria"; esta posição
"deu a ele, aos olhos do público, uma autoridade maior do que a de
qualquer regente."
D. Pedro II aos 14 anos de idade |
CASAMENTO
O fim da regencia facciosa estabilizou o governo. Com um legítimo
monarca no trono, a autoridade foi revestida numa única e clara voz.
Pedro II percebia o seu papel como o de um árbitro, mantendo seus
conceitos pessoais de lado para não afetarem o seu dever de desemaranhar
disputas políticas partidárias.
O jovem monarca era dedicado, realizando inspeções diárias pessoais e
visitas a repartições públicas. Seus súditos eram impressionados com a
sua aparente auto-confiança,
apesar de que sua timidez e falta de desenvoltura eram vistas como
defeitos. Seu jeito reservado de falar apenas uma ou duas palavras a
cada vez tornavam conversações diretas extremamente difíceis.
Sua natureza taciturna era manifestação de uma prevenção quanto a
relações próximas que tinha origem nas experiências de abandono, intriga
e traição que vivenciou na infância.
Por trás das cenas, um grupo de servos palacianos de alto nível e
notáveis políticos tornou-se conhecido como "Facção Áulica" (e também
"Clube da Joana") por estabelecerem influência sobre o jovem Imperador—e
algum eram de fato próximos, como Mariana de Verna.
Pedro II foi usado com maestria pelos áulicos para eliminar seus
inimigos (reais ou imaginários) através da remoção de seus rivais.
Acesso a pessoa do monarca por políticos rivais e as informações que
este recebia eram cuidadosamente controladas. Uma rodada contínua de
negócios de governos, estudos, eventos e aparições pessoais, utilizadas
como distrações, mantiveram o Imperador ocupad, isolando-o efetivamente e
impedindo-o de perceber a extensão do quanto estava sendo explorado.
Preocupados com a taciturnidade e imaturidade do Imperador, os
áulicos acreditavam que um casamento poderia melhorar o seu
comportamento e sua personalidade. O governo do Reino das Duas Sicílias ofereceu a mão da Princesa Teresa Cristina. Um retrato foi enviado e este revelava uma jovem e bela mulher, o que levou Pedro II a aceitar a proposta. Eles foram casados por procuração em Nápoles em 30 de maio de 1843. A nova Imperatriz do Brasil desembarcou no Rio de Janeiro em 3 de setembro.
Ao vê-la pessoalmente o Imperador aparentou estar claramente decepcionado.
A pintura que havia recebido era claramente uma idealização; a Teresa
Cristina real era baixa, um pouco acima do peso, coxa e apesar de não
ser feia, também não era bonita.
Ele fez pouco para esconder sua desilusão. Um observador afirmou que
ele deu às costas a Teresa Cristina, outro disse que ele estava tão
chocado que precisou sentar, e é possível que ambos tenham ocorrido. Naquela noite Pedro II chorou e reclamou para Mariana de Verna, "Eles me enganaram, Dadama!" Foram necessárias horas para convencê-lo de que o dever exigia que ele seguisse em frente com o matrimônio.
Uma celebração nupcial, com a ratificação dos votos tomados por
procuração e o conferimento de uma benção nupcial, ocorreu no dia
seguinte, 4 de setembro.
ESTABELECIMENTO DA AUTORIDADE IMPERIAL
Por volta de 1846 Pedro II já havia amadurecido fisicamente e
mentalmente. Ele não era mais o jovem inseguro de 14 anos idade que se
permitia levar por boatos, por sugestões de complôs secretos, e outras
táticas manipuladoras. Ele cresceu num homem, que com 1, 90 m de altura, olhos azuis e cabelos loiros, era descrito como belo.
Com seu crescimento, suas fraquezas desapareceram e suas qualidades de
caráter vieram a tona. Ele aprendeu não só a ser imparcial e dedicado,
mas também cortês, paciente e sensato. A medida que ele começou a
exercer por completo sua autoridade, suas novas habilidades sociais e
dedicação no governo contribuíram grandemente para sua eficiência imagem
pública.
O historiador Roderick J. Barman o descreveu: "Ele mantinha suas
emoções sob disciplina férrea. Ele nunca era rude e nunca perdia a
cabeça. Ele era excepcionalmente discreto com as palavras e cauteloso na
forma de agir."
No fim de 1845 e no início de 1846 o Imperador realizou uma viagem
pelas províncias mais ao sul do Brasil, passando por São Paulo (do qual o
atual Paraná então fazia parte), Santa Catarina e Rio Grande do Sul.
Ele ficou surpreso pela recepção entusiástica e calorosa que recebeu em
todas as províncias. Este sucesso o encourajou, pela primeira vez na vida, a agir de forma confiante por iniciativa e juízos próprios.
Mais importante, este período viu o fim da Facção Áulica. Pedro II
eliminou com sucesso toda e qualquer influência que os áulicos detinham
ao removê-los de seu círculo íntimo ao mesmo tempo em que evitava uma
perturbação pública.
Pedro II enfrentou três graves crises entre 1848 e 1852.
O primeiro teste veio como a confrontação ao tráfico ilegal de escravos
provenientes do continente africano. Este havia sido legalmente extinto
como parte de um tratado com a Grã-Bretanha. O tráfico permaneceu inalterado, no entanto, e o parlamento britânico promulgou o Bill Aberdeen
em 1845, autorizando navios de guerra britânicos de abordarem navios de
carga brasileiros e apreender os que estivessem envolvidos no tráfico,
Enquanto o Brasil se encontrava preso a este problema, a Revolta Praieira eclodiu em 6 de novemro de 1848. Se tratou de um conflito entre facções políticas locais na província de Pernambuco, e foi suprimida em março de 1849. A lei Eusébio de Queirós
foi promulgada em 4 de setembro de 1850, provendo ao governo brasileiro
autoridade ampla para combater o tráfico liegal de escravos. Com esta
nova ferramenta, o Brasil passou a eliminar a importação de escravos.
Por volta de 1852 esta primeria crise estava eliminada, com a
Grã-Bretanha reconhecendo que o tráfico havia sido suprimido.
A terceira crise envolveu um conflito com a Confederação Argentina relacionado a ascendência sobre os territórios ao redor do Rio da Prata e da livre navegação de seus afluentes. Desde a década de 1830 que o ditador argentino Dom Juan Manuel de Rosas apoiava rebeliões dentro do Uruguai e do Brasil.
Somente em 1850 que foi possível ao Brasil reagir a ameaça que representava Rosas. Uma aliança foi forjada entre o Brasil, Uruguai e províncias rebeldes argentinas, levando a Guerra do Prata e a consequente queda do governante argentino em Fevereiro de 1852.
Nas palavras do historiador Roderick J. Barman, uma "porção
considerável do crédito deve ser ... assinalado ao Imperador, cuja
cabeça fria, tenacidade em seu propósito, e um senso do que era possível
se revelaram indispensáveis."
O sucesso do Império em sua atuação nas três crises aumentou
consideravelmente a estabilidade e prestígio da nação, e o Brasil
emergiu como um poder no hemisfério.
Internacionalmente, os europeus começaram a enxergar o país como
personificador de ideais liberais familiares, como liberdade de imprensa
e respeito constitucional a liberdades civis. Sua monarquia
parlamentarista representativa se firmava em grave contraste a mistura
de ditaduras e instabilidade endêmica as demais nações da América do Sul
durante este período.
PEDRO II E A POLÍTICA
D. Pedro II com suas vestes imperiais |
Pedro II não era nem uma figura ornamental como os monarcas da
Grã-Bretanha e nem um autocrata à maneira dos czares russos. O Imperador
exercia poder através da cooperação com políticos eleitos, interesses
econômicos e apoio popular. Esta interdependência e interação fizeram muito para influenciar a direção do reinado de Pedro II.
Os mais notáveis sucessos políticos do Imperador foram alcançados
devido a maneira cooperativa e de não-confrontação no qual ele agia
quanto a interdependência e interação com interesses diversos e com as
figuras partidárias nos quais ele tinha que lidar. Ele era
impressionantemente tolerante, raramente se ofendendo com críticas,
oposição, ou mesmo incompetência. Ele era cuidadoso em nomear somente candidatos altamente qualificados para posições no governo, e buscava coibir a corrupção.
Ele não tinha autoridade constitucional para forçar a aceitação as suas
iniciativas sem o devido apoio, e sua maneira colaboradora quanto a
governar manteve a nação progredindo e permitiu ao sistema político
funcionar com sucesso.
As incertezas de sua infância e a exploração sofrida nas mãos de
outros durante a sua juventude fizeram com que o Imperador se
determinasse a manter um controle sobre seu próprio destino. Em sua
visão, para atingir a auto-determinação seria necessário obter poder
necessário e mantê-lo.
Ele usava sua ativa e essencial participação no direcionamento do
governo como meios de influência. Sua direção se tornou indispensável,
apesar de que nunca resultou em um "governo de um homem só".
O Imperador respeitava as prerrogativas da lesgislatura, mesmo quando
os políticos resistiam, postergavam ou frustravam seus objetivos e
nomenações.
O sistema político nacional brasileiro assemelhava-se ao de outras nações parlamentaristas. O Imperador, como Chefe de Estado,
pediria a um membro do Partido Conservador ou do Partido Liberal para
formar um gabinete. O outro partido formaria a oposição na legislatura,
como contrapeso ao novo goberno. "Em seu manejo dos dois partidos, ele
tinha que manter uma reputação de imparcialidade, trabalhar de acordo
com a vontade popular, e evitar qualquer imposição flagrante de sua
vontade na cena política."
A presença ativa de Pedro II na cena política era parte importante da
estrutura do governo, que também incluia o gabinete de ministros, a Câmara dos Deputados e o Senado
(os últimos dois formavam a Assembléia Geral ou Parlamento). A maior
parte dos políticos apreciavam e apoiavam o papel do Imperador. Muitos
haviam vivido durante o período regencial, quando a falta de um monarca
que poderia manter-se acima de interesses mesquinhos e próprios levou a
anos de luta entre facções políticas. Suas experiências com a vida
pública criaram neles a convicção de que o Imperador era "indispensável
para paz e prosperidade permanente do Brasil."
VIDA DOMÉSTICA
O casamento de Pedro II e Teresa Cristina começou mal. Com maturidade, paciência, e o nascimento de seu primeiro filho, Afonso, o relacionamento melhorou. Mais tarde Teresa Cristina teve outros três filhos: Isabel, em 1846; Leopoldina, em 1847; e por último, Pedro, em 1848. Contudo, ambos os meninos morreram na infância, o que devastou o Imperador.
Além de sofrer como pai, sua visão do futuro do Império mudou
completamente. Apesar de sua afeição por suas filhas, ele não acreditava
que a Princesa Isabel, apesar de sua herdeira, teria qualquer chance
real de prosperar no trono. Ele acreditava que o seu sucessor precisava
ser um homem para que a monarquia fosse viável. Ele passou cada vez mais a enxergar o sistema imperial como inexorávelmente preso a si, que não sobreviveria a sua morte. Isabel e sua irmã receberam uma educação excepcional,
apesar de não terem sido preparadas para governar sobre a nação.
Pedro II excluía deliberadamente Isabel da participação nos negócios e
decisões de governo.
Por volta de 1850, Pedro II começou a ter casos discretos com outras mulheres. A mais famosa e duradoura dessas relações envolveu Luísa Margarida de Barros Portugal,
Condessa de Barral, com quem ele formou uma relação de amizade
romântica e íntima, mas não adúltera, depois que a nomenou aia de suas
filhas em novembro de 1856. Por toda a sua vida, o Imperador manteve a esperança de encontrar a sua alma gêmea, algo que ele sentia ter sido roubado de si ao ser obrigado a casar por razões de Estado com uma mulher pelo qual ele nunca teve paixão.
Isto é apenas um dos exemplos que ilustram a dupla personalidade do
Imperador: uma que era "Dom Pedro II", que levava com afinco o seu dever
no papel de Imperador que o destino havia lhe imposto, e outra que era
"Pedro de Alcântara", que considerava o cargo imperial um fardo ingrato e
que estava mais feliz nos mundos da literatura e da ciência.
Pedro II era o que atualmente se considera um trabalhador compulsivo,
e sua rotina era exigente. Ele normalmente acordava as sete da manhã e
não dormia antes das duas da madrugada do dia seguinte. Seu dia inteiro
era reservado aos negócios de Estado e o pouco tempo livre disponível
era gasto lendo e estudando. O Imperador vestia diariamente uma simples casaca, calça e gravata pretas. Para ocasiões especiais ele usava o uniforme de gala e só aparecia vestido com o manto imperial e portando a coroa e cetro duas vezes ao ano na abertura e encerramento da Assembléia Geral.
Pedro II obrigava políticos e funcionários públicos a seguirem seus exemplos de padrões exigentes.
O Imperador exigia que os políticos trabalhassem oito horas por dia e
adotou uma política exigente de seleção de funcionários públicos baseada
na moralidade e mérito. Para estabelecer o padrão, ele vivia de forma simples. Bailes e eventos de corte cessaram após 1852.
Ele também recusou as reiteradas propostas para aumentarem o valor de
sua lista civil (Rs 800:000$000 por ano, ou cerca de $405,000 ou £90,000
em 1840) desde 1840, quando representava 3% dos gastos públicos, até 1889, quando havia caído para 0,5%. Ele recusava luxo, uma vez explicando: "Também entendo que despesa inútil é furto a Nação".
PATRONO DAS ARTES E DAS CIÊNCIAS
"Nasci para consagrar-me às letras e às ciências ", o Imperador comentou em seu diário pessoal em 1862. Ele sempre teve prazer em ler e encontrou nos livros um refúgio para a sua posição. Sua habilidade para relembrar trechos que havia lido no passado era notável. Os interesses de Pedro II eram diversos, e incluíam antropologia, geografia, geologia, medicina, Direito, estudos religiosos, filosofia, pintura, escultura, teatro, música, química, poesia e tecnologia. No final de seu reinado, havia três livrarias em São Cristóvão contendo mais de 60.000 livros. Sua paixão por linguística o levou por toda a vida a estudar novas línguas, e ele era capaz de falar e escrever não somente em português, mas também em latim, francês, alemão, inglês, italiano, espanhol, grego, árabe, hebraico, sânscrito, chinês, provençal e tupi. Tornou-se o primeiro brasileiro fotógrafo quando adquiriu uma câmera de daguerreótipo em março de 1840.
Criou um laboratório fotográfico em São Cristóvão e outro de química e
física. Ele também construiu um observatório astronômico no paço.
A erudição do Imperador surpreendeu Friedrich Nietzsche quando ambos se conheceram. Victor Hugo falou dele: "Senhor, és um grande cidadão, és o neto de Marco Aurélio", e Alexandre Herculano
o chamou de um "príncipe cuja opinião geral o considera como o primeiro
de sua era graças à sua mente dotada, e devido à sua constante
aplicação desse dom para as ciências e cultura." Tornou-se membro da Royal Society, da Academia de Ciências da Rússia, das Reais Academias de Ciências e Artes da Bélgica e da Sociedade Geográfica Americana. Em 1875 foi eleito membro da Académie des Sciences francesa, uma honra dada anteriormente a somente dois outros chefes de estado: Pedro, o Grande e Napoleão Bonaparte.
Pedro II trocou cartas com cientistas, filósofos, músicos e outros
intelectuais.
Muitos de seus correspondentes se tornaram seus amigos,
incluindo Richard Wagner, Louis Pasteur, Louis Agassiz, John Greenleaf Whittier, Michel Eugène Chevreul, Alexander Graham Bell, Henry Wadsworth Longfellow, Arthur de Gobineau, Frédéric Mistral, Alessandro Manzoni, Alexandre Herculano, Camilo Castelo Branco e James Cooley Fletcher.
Pedro II cedo percebeu que tinha a oportunidade para utilizar seu
conhecimento que havia acumulado em uso prático para o benefício do
Brasil. O Imperador considerava a educação como de importância nacional e era ele mesmo um exemplo do valor do aprendizado.
Ele comentou: "Se eu não fosse Imperador, eu gostaria de ser um
professor. Eu não conheço tarefa mais nobre do que direcionar as jovens
mentes e preparar os homens de amanhã." A educação também colaborou no seu objetivo de criar um sentimento de identidade nacional brasileira. Seu reino viu a criação do Instituto Histórico e Geográfico Brasileiro para promover pesquisa e preservação nas ciências históricas, geográficas, culturais e sociais. A Imperial Academia de Música e Ópera Nacional e o Colégio Pedro II também foram fundados, o último servindo como modelo para escolas por todo o Brasil. A Imperial Escola de Belas Artes, estabelecida por seu pai, recebeu maior apoio e fortalecimento.
Utilizando sua lista civil, Pedro II providenciou bolsas de estudo para
brasileiros frequentarem universidades, escolas de arte e consevatórios
musicais na Europa. Ele também financiou a criação do Instituto Pasteur, assim como a casa de ópera Bayreuth Festspielhaus de Wagner, além de outros projetos semelhantes. Seus esforços foram reconhecidos tanto em casa quanto no exterior. Charles Darwin falou dele: "O Imperador faz tanto pela ciência, que todo sábio é obrigado a demonstrar a ele o mais completo respeito."
POPULARIDADE E CONFLITO COM A GRÃ-BRETANHA
No fim de 1859, Pedro II partiu em viagem as províncias ao norte da capital, visitando Espírito Santo, Bahia, Sergipe, Alagoas, Pernambuco e Paraíba.
Após quatro meses, ele retornou em fevereiro de 1860. A viagem foi um
grande sucesso, com o Imperador sendo alegre e calorosamente
recepcionado em todos os lugares.
A primeira metade dos anos 1860s viu paz e prosperidade no Brasil. Liberdades civis foram mantidas. Liberdade de expressão existia desde a independência do Brasil e continuou a ser defendida com veemência por Pedro II.
O Imperador encontrou em jornais da capital e das províncias uma forma
ideal de manter conhecimento da opinião pública e da situação em geral
da nação.
Outra maneira de monitorar o Império foi através de contato direto com
seus súditos. Uma oportunidade para isto era durante as audiências
públicas regulares nas terças e sábados, onde qualquer pessoa de
qualquer classe social (inclusive escravos) poderiam ser admitidos e apresentar suas petições e estórias.
Visitas a escolas, colégios, prisões, exibições, fábricas, quartéis, e
outras aparições públicas apresentavam mais oportunidades a ele de
reunir informação em primeira mão.
A tranquilidade desapareceu quando o cônsul britânico no Rio de Janeiro, William Dougal Christie, quase iniciou uma guerra entre sua nação e o Brasil. Christie, que acreditava na diplomacia das canhoneiras,
enviou um ultimato contendo exigências abusivas provenientes de dois
incidentes menores ocorridos no fim de 1861 e começo de 1862. O primeiro
foi o naufrágio de uma barca comercial na costa do Rio Grande do Sul
que resultou no saque de sua carga pela população local. O segundo foi a
prisão de dois oficiais britânicos embriagados que causavam distúrbios
nas ruas do Rio.
O governo brasileiro se recusou a ceder, e Christie enviou ordens
para que navios de guerra britânicos capturassem embarcações mercantes
brasileiras como indenização. A Marinha do Brasil foi preparada para o conflito iminente, foi ordenada a compra de artilharia costeira, assim como de encouraçados
e as defesas nas costas tiveram permissão para atirar contra qualquer
navio de guerra britânico que tentasse capturar embarcações mercantes
brasileiras. Pedro II foi a maior razão da resistência do Brasil, ele rejeitou qualquer sugestão para que o país cedesse. A resposta veio como surpresa para Christie, que mudou seu tom e propôs um acordo pacífico através de arbitragem internacional.
O governo brasileiro apresentou suas demandas e, ao ver a recusa do
governo britânico, cortou relações diplomáticas com a Grã-Bretanha em
junho de 1863.
PRIMEIRO VOLUNTÁRIO DA PÁTRIA
Com a ameaça de guerra com a Grã-Bretanha, o Brasil teve que dirigir
suas atenções para suas fronteiras ao sul. Outra guerra civil havia
começado no Uruguai jogando seus dois partidos políticos um contra o outro. O conflito interno levou ao assassinato de brasileiros e ao saque de suas propriedades no Uruguai. O governo brasileiro decidiu intervir, temeroso de aparentar fraqueza frente a possibilidade de conflito com os britânicos. Um exército brasileiro invadiu o Uruguai em Dezembro de 1864, iniciando a breve Guerra do Uruguai, que terminou em 20 de fevereiro de 1865.
Enquanto isso, em dezembro de 1864 o ditador do Paraguai, Francisco Solano López
se aproveitou da situação para estabelecer seu país como poder
regional. O exército paraguaio invadiu a província brasileira do Mato Grosso (atual estado do Mato Grosso do Sul), resultando na Guerra do Paraguai.
Quatro meses depois, tropas paraguaias invadiram território argentino
como um prelúdio de uma invasão à província brasileira do Rio Grande do Sul.
A par da anarquia reinante no Rio Grande do Sul e da incapacidade e
incompetência de seus chefes militares em resistirem ao exército
paraguaio, Pedro II decidiu ir à frente de batalha pessoalmente. Tanto o gabinete quanto a Assembleia Geral se recusaram a aquiescer ao desejo do Imperador. Após receber também a recusa do Conselho de Estado, Pedro II fez o seu
memorável pronunciamento: "Se os políticos podem me impedir que siga
como imperador, vou abdicar e seguir como voluntário da Pátria"—uma
alusão aos brasileiros que se voluntariaram para ir a guerra e que
ficaram conhecidos por toda a nação como "Voluntários da Pátria". O próprio monarca foi chamado popularmente de "Voluntário número um".
Pedro II partiu para o sul em Julho de 1865. Ele desembarcou no Rio Grande do Sul poucos dias depois e seguiu de lá por terra. A jornada foi realizada montada a cavalo e por carretas, e à noite o imperador dormia em tenda de campanha. Pedro II alcançou Uruguaiana,
uma cidade brasileira ocupada pelo exército paraguaio, em 11 de
setembro. Quando de sua chegada, a força paraguaia já se encontrava
cercada.
O Imperador cavalgou a uma distância de um tiro de rifle de Uruguaiana
para demonstrar sua coragem, mas os paraguaios não o atacaram. Para evitar mais derramamento de sangue, ele ofereceu os termos de rendição ao comandante paraguaio, que os aceitou.
A coordenação das operações militares por Pedro II' e seu exemplo
pessoal teve um papel decisivo na repulsa à invasão paraguaia do
território brasileiro. Havia uma crença generalizada de que a guerra estava próxima de seu fim e que a rendição de López era iminente. Antes de partir de Uruguaiana, ele recebeu o embaixador britânico Edward Thornton, que se desculpou publicamente em nome da Rainha Vitória e do governo britânico pela crise entre os dois Impérios.
O Imperador considerou suficiente esta vitória diplomática sobre a mais
poderosa nação do mundo e reatou relações amistosas entre as duas
nações. Ele retornou ao Rio de Janeiro e foi recebido com enormes celebrações.
CONCLUSÃO DA GUERRA
Contra todas as expectativas, a guerra prosseguiu por cinco anos.
Durante este período, o tempo e a energia de Pedro II foram dedicados ao
conflito.
Ele se ocupou no recrutamento e equipamento de tropas para reforçar as
linhas de frente de batalha, e na construção de novos navios de guerra. Ao mesmo tempo procurou impedir que querelas entre os partidos políticos prejudicassem o esforço de guerra.
Sua recusa em aceitar qualquer resultado que não a total vitória sobre o
inimigo foi essencial para o resultado final da guerra.
Sua tenacidade foi recompensada com a notícia de que López morrera em
batalha em 1 de março de 1870, levando ao fim do conflito bélico.
Mais de 50 mil soldados brasileiros morreram e os custos da guerra foram equivalentes a onze vezes a receita anual do governo. No entanto, o país se encontrava tão próspero que o governo pôde quitar o débito em apenas dez anos. O conflito foi um estímulo para a produção e para o crescimento econômico nacional. Pedro II recusou a proposta da Assembléia Geral de erguer uma estátua equestre sua para comemorar a vitória e ao invés preferiu utilizar o dinheiro necessário para construir escolas de ensino primário.
UM ABOLICIONISTA DO TRONO
A vitória diplomática sobre o Império Britânico e a vitória militar
sobre o Uruguai em 1865, seguida da bem-sucedida conclusão da guerra com
o Paraguai em 1870, resultou no que foi chamado de "era dourada" e apogeu do Império brasileiro.
A década de 1870 foram bons anos para o Brasil e a popularidade do
imperador era maior do que nunca. Progressos foram feitos tanto na
esfera política quanto na social e todos os segmentos da sociedade foram
beneficiados com as reformas e pela prosperidade nacional crescente.
A reputação internacional do Brasil melhorou consideravelmente graças a
sua estabilidade política e potencial de investimento. O império era
visto como uma nação moderna e progressiva sem equivalente nas Américas,
com a única exceção dos Estados Unidos. A economia começou rapidamente a crescer e a imigração floreceu.
Estradas de ferro, navegação e outros projetos de modernização foram
adotados. Com "a escravidão fadada à extinção e outras reformas
projetadas, as perspectivas de 'avanços morais e materiais' pareciam
vastas".
Coroa de D. Pedro II |
Após a fonte estrangeira do fornecimento de novos escravos ter sido eliminada, Pedro II dedicou sua atenção no começo dos anos 1860s em remover a fonte restante: a escravidão de crianças nascidas como escravos. Legislação foi feita através de sua iniciativa, mas o conflito com o Paraguai atrasou a discussão da proposta na Assembléia Geral. Pedro II abertamente pediu a gradual erradicação da escravidão na Fala do trono em 1867. Ele foi pesadamente criticado, e seu movimento foi condenado como "suicídio nacional".
Opositores frequentemente diziam que "a abolição era seu desejo pessoal e não o desejo da nação" Por fim, foi decretada a lei "Lei do Ventre Livre" em 28 de setembro de 1871, sob a qual todas crianças nascidas de mulheres escravas após aquela data eram consideradas livres.
VIAGEM A EUROPA E NORTE DA ÁFRICA
Em 25 de maio de 1871 o imperador e sua esposa viajaram à Europa.
Ele há tempo ansiava por férias no exterior. Quando chegou a notícia de
que sua filha mais nova, a princesa Leopoldina, então com 23 anos,
havia morrido de tifo em Viena, ele finalmente encontrou um motivo forte
para partir. Ao chegar em Lisboa, imediatamente dirigiu-se ao Palácio das Janelas Verdes, onde encontrou-se com sua madrasta, Amélia de Leuchtenberg,
que não via há quarenta anos. O encontro foi emocionante e Dom Pedro
escreveu no seu diário: "Eu chorei de felicidade e também de dor por ver
minha mãe tão afetuosa para comigo, mas também por vê-la tão idosa e
doente".
Em seguida ele visitou a Espanha, a Grã-Bretanha, a Bélgica, a Alemanha, Áustria, Itália, Egito, Grécia, Suíça e França. Em Coburgo visitou a tumba de sua filha.
Sua impressão sobre a viagem foi de um tempo de "alívio e liberdade".
Viajando com o nome de "Dom Pedro de Alcântara", insistia em ser tratado
informalmente e em parar apenas em hotéis. Passava seus dias em passeios e encontrando com cientistas e outros intelectuais com quem partilhava interesses.
A viagem foi um sucesso, e suas maneiras nobres e curiosidade
valeram-lhe notícias respeitosas nas nações que visitou. Este prestígio
aumentou quando chegaram à Europa as notícias sobre a aprovação da Lei do Ventre Livre. Ele e sua comitiva voltaram em triunfo ao Brasil em 31 de março de 1872.
A QUESTÃO RELIGIOSA
Logo após sua chegada Dom Pedro enfrentou uma crise inesperada, a chamada Questão religiosa. No Brasil vigorava o regime de união entre Igreja e Estado, o padroado, significando que o governo exercia controle sobre vários aspectos da vida religiosa nacional, nomeando padres e bispos para suas designações e pagando-lhes salário. Reservava-se também o direito de aprovar ou não as determinações canônicas da Santa Sé. Na mesma época, sob influência da corrente ultramontana do catolicismo, conservadora e ortodoxa, a qual reivindicava a supremacia absoluta da Igreja em todos os assuntos, os bispos de Olinda e do Pará interditaram irmandades sob sua jurisdição alegando que entre seus membros havia maçons, uma vez que a maçonaria era condenada pela Igreja. Entretanto, legalmente a maçonaria era autorizada a funcionar no Brasil. Havia inclusive inúmeros padres maçons, pois no país havia uma forte tendência liberal.
O governo tentou fazer com que os bispos obedecessem às leis em
vigor, mas ambos recusaram, alegando fidelidade às orientações
ultramontanas. Os bispos acabaram presos e condenados a trabalhos
forçados em 1874. Pouco depois a sentença foi comutada em prisão
simples. O imperador era católico, mas aceitava algumas ideias liberais, como a liberdade de pensamento e a teoria da evolução. Nem ele nem a Igreja desejavam um rompimento, mas o governo não poderia tolerar uma desobediência explícita à lei.
A questão religiosa desencadeou uma grande polêmica, que nem a anistia
dos bispos em 1875 aplacou, vindo a enfraquecer a posição do governo.
VIAGEM AOS EUA, EUROPA E ORIENTE MÉDIO
Mais uma vez o Imperador viajou para o exterior, desta vez indo aos Estados Unidos. Ele foi acompanhado por seu leal criado Rafael, que o criou na infância. Pedro II chegou à Nova Iorque em 15 de abril de 1876, e de lá viajou pelo interior do país; indo até São Francisco no oeste, Nova Orleães no sul, Washington, D.C., no noroeste, e Toronto, Canadá.
Sua viagem foi um "triunfo completo", tendo Pedro II causado uma
profunda impressão no povo americano por sua simplicidade e gentileza. Depois atravessou o Atlântico, onde visitou a Dinamarca, Suécia, Finlândia, Rússia, o Império Otomano e a Grécia. Em sequência foi para a Terra Santa, Egito, Itália, Áustria, Alemanha, França, Grã-Bretanha, Países Baixos, Suíça e Portugal. Ele voltou ao Brasil em 22 de setembro de 1877.
As viagens de Pedro II ao exterior causaram um profundo impacto
psicológico. Enquanto viajava, ele estava praticamente livre das
restrições impostas pelo seu cargo.
Sob o pseudônimo "Pedro de Alcântara", ele aproveitava a satisfação de
se mover como uma pessoa comum, até mesmo viajando por trem apenas com
sua esposa.
Apenas quando viajava para fora era que o Imperador podia se
desvincilhar das formalidades e exigências da vida que conhecia no
Brasil. Se tornou mais difícil se readaptar às suas rotinas como Chefe
de Estado ao retornar.
Com a morte prematura de seus filhos do sexo masculino, a fé do
Imperador no futuro da monarquia se evaporara. Suas viagens para o
exterior agora o tornaram ressentido do peso que o destino colocara em
seus ombros quando era apenas uma criança de cinco anos de idade. Se
antes ele não tinha interesse em assegurar o trono para a próxima
geração, agora ele não tinha interesse sequer em mantê-lo em seu tempo
de vida.
DECADÊNCIA
Na década de 1880 o Brasil continuou a prosperar e a diversidade
social aumentou notavelmente, testemunhando inclusive o primeiro
movimento pelos direitos da mulher.
Por outro lado, as cartas que Pedro II escreveu neste período revelam
um homem cansado do mundo, cada vez mais alienado e pessimista. Ele
permanecia fiel às suas obrigações como Chefe de Estado e era meticuloso
em seu cumprimento, apesar de frequentemente sem entusiasmo. Por causa do crescente "indiferentismo do Imperador pela sorte do destino do regime"
e por sua falta de atitude em defesa do sistema imperial quando ele
começou a ser questionado, historiadores têm atribuído a "principal,
talvez única, responsabilidade" pela queda da monarquia à Pedro II.
Princesa Isabel e D. Pedro II |
A falta de um herdeiro que pudesse prover de forma possível uma nova
direção para a nação também diminuiu as perspectivas a longo termo para a
continuação da monarquia brasileira. O Imperador amava sua filha
Isabel, mas ele considerava a ideia de uma sucessora feminina como
contrária ao papel requerido de um governante do Brasil. Ele enxergava a
morte de seus dois filhos homens como um sinal de que o Império estava
destinado a ser suplantado. A resistência a aceitar uma mulher governante também era compartilhada pela classe política.
Apesar da Constituição permitir a sucessão feminina ao trono, o Brasil
ainda era um país bastante tradicional, e apenas um sucessor masculino
era percebido como capaz de ser um Chefe de Estado.
O republicanismo era um credo elitista que nunca floresceu no Brasil, e que tinha pouco apoio nas províncias. Mas uma ameaça séria à Monarquia foi a combinação de ideias republicanas e a disseminação do Positivismo
entre os oficiais de baixa e média patente no exército, o que levou a
indisciplina nas tropas. Eles sonhavam com uma república ditatorial que
acreditavam ser superior a monarquia democrática liberal.
A ABOLIÇÃO DA ESCRAVATURA E O GOLPE DE ESTADO REPUBLICANO
A saúde do Imperador declinava consideravelmente, e seus médicos sugeriram que ele buscasse tratamento na Europa. Ele partiu em 30 de junho de 1887. Enquanto em Milão ele passou duas semanas entre a vida e a morte, recebendo até mesmo a extrema unção. Em 22 de maio de 1888, ainda na cama se recuperando, recebeu a notícia de que a escravidão havia sido abolida no Brasil. Deitado na cama, com uma voz fraca e lágrimas nos olhos, ele disse: "Grande povo! Grande povo!". Pedro II retornou ao Brasil e desembarcou no Rio de Janeiro em 22 de agosto de 1888.
O "país inteiro o recebeu com um entusiasmo jamais visto. Da capital,
das províncias, de todos os lugares, chegaram provas de afeição e
veneração."
Com a devoção expressada pelos brasileiros com o retorno do Imperador e
da Imperatriz da Europa, a monarquia aparentava gozar de apoio
inabalável e parecia estar no ápice de sua popularidade.
A nação brasileira desfrutava de grande prestígio no exterior durante os anos finais do Império, e havia se tornado um poder emergente no cenário internacional.
Previsões de perturbações na economia e na mão-de-obra causadas pela
abolição da escravatura não se realizaram e a colheita de café de 1888
foi bem-sucedida.
Contudo, o fim da escravidão desencadeou em uma transferência explícita
do apoio ao republicanismo pelos grandes fazendeiros de café.
Detentores de grande poder político, econômico e social no país, os fazendeiros apreciaram a abolição como confisco de propriedade privada.
Para evitar uma reação republicana, o governo aproveitou o crédito
fácil disponível no Brasil como resultado de sua prosperidade. Ele
disponibilizou grandes empréstimos a juros baixos aos cafeicultores e
distribuiu fartamente títulos de nobreza e outras honrarias a figuras
políticas influentes que haviam se tornado descontentes.
O governo também tomou medidas indiretas para administrar a crise com
os militares revivendo a moribunda Guarda Nacional, que então existia
praticamente apenas no papel.
Princesa Isabel |
Os positivistas realizaram um golpe de Estado em 15 de novembro de 1889 e instituíram uma república. As poucas pessoas que presenciaram o acontecimento não perceberam que se tratava de uma rebelião. A historiadora Lídia Besouchet afirmou que "[r]aramente uma revolução havia sido tão minoritária." Durante todo o processo Pedro II não demonstrou qualquer emoção, como se não se importasse com o desenlance. Ele rejeitou todas as sugestões para debelar a rebelião feitas por políticos e militares.
Quando soube da notícia de sua deposição, simplesmente comentou: "Se
assim é, será minha aposentadoria. Trabalhei demais e estou cansado.
Agora vou descansar". Ele e sua família foram mandados para o exílio na Europa, partindo em 17 de novembro.
ÚLTIMOS ANOS
Os últimos anos de D. Pedro II |
Certo dia realizou um longo passeio pelo rio Sena em carruagem aberta, apesar da temperatura extremamente baixa. Ao retornar para o hotel Bedford à noite, sentiu-se resfriado. A doença evoluiu nos dias seguintes até tornar-se uma pneumonia. O estado de saúde de Pedro II rapidamente piorou até a sua morte às 00:35 da manhã do dia 5 de dezembro de 1891. Suas últimas palavras foram: "Deus que me conceda esses últimos desejos—paz e prosperidade para o Brasil."
Enquanto preparavam seu corpo, um pacote lacrado foi encontrado no
quarto com uma mensagem escrita pelo próprio Imperador: "É terra de meu
país, desejo que seja posta no meu caixão, se eu morrer fora de minha
pátria". O pacote que continha terra de todas as províncias brasileiras foi colocada dentro do caixão.
A Princesa Isabel desejava realizar uma cerimônia discreta e íntima, mas acabou por aceitar o pedido do governo francês de realizar um funeral de Chefe de Estado.
No dia seguinte, milhares de personalidades compareceram a cerimônia
realizada em Madeleine. Além da família de Pedro II, estavam: Francisco II, ex-rei das Duas Sicílias, Isabel II, ex-rainha da Espanha, Luís Filipe, Conde de Paris, e diversos outros membros da realeza européia. Também estavam presentes o General Joseph Brugère, representando o Presidente Sadi Carnot, os presidentes do Senado e da Câmara, assim como senadores, deputados, diplomatas e outros representantes do governo francês. Quase todos os membros da Academia Francesa, do Instituto de França, da Academia de Ciências Morais e da Academia de Inscrições e Belas-Artes também participaram.
Representantes de outros governos, tanto do continente americano,
quanto europeu se fizeram presentes, além de países longínquos como Turquia, China, Japão e Pérsia.
Em seguida o caixão foi levado em cortejo até a estação de trem, de
onde partiria para Portugal. Apesar da chuva incessante e da temperatura
extremamente baixa, cerca de 300.000 pessoas assistiram ao evento. A viagem prosseguiu até a Igreja de São Vicente de Fora, próximo a Lisboa, onde o corpo de Pedro II foi depositado no Panteão dos Braganças em 12 de dezembro.
Os membros do governo republicano brasileiro, "temerosos da grande
repercussão que tivera a morte do Imperador", negaram qualquer
manifestação oficial.
Contudo, o povo brasileiro não ficou indiferente ao falecimento de
Pedro II, pois a "repercussão no Brasil foi também imensa, apesar dos
esforços do governo para a abafar. Houve manifestações de pesar em todo o
país: comércio fechado, bandeiras a meio pau, toques de finados, tarjas
pretas nas roupas, ofícios religiosos".
Foram realizadas "missas solenes por todo o país, seguidas de
pronunciamentos fúnebres em que se enalteciam D. Pedro II e o regime
monárquico".
LEGADO
Os brasileiros se mantiveram apegados a figura do imperador popular a quem consideravam um herói e continuaram a vê-lo como o Pai do Povo personificado.
Esta visão era ainda mais forte entre os brasileiros negros ou de
ascendência negra, que acreditavam que a monarquia representava a
libertação. O fenômeno de apoio contínuo ao monarca deposto é largamente
devido a uma noção generalizada de que ele foi "um governante sábio,
benevolente, austero e honesto"
Esta visão positiva de Pedro II, e nostalgia por seu reinado, apenas
cresceu a medida que a nação rapidamente caiu sob o efeito de uma série
de crises políticas e econômicas que os brasileiros acreditavam terem
ocorridas devido a deposição do Imperador. Ele nunca cessou de ser considerado um herói popular, mas gradualmente voltaria a ser um herói oficial.
Surpreendentemente fortes sentimentos de culpa se manifestaram dentre
os republicanos, que se tornaram cada vez mais evidentes com a morte do
Imperador no exílio. Eles elogiavam Pedro II, que era visto como um modelo de ideais republicanos, e a era imperial, que acreditavam que deveria servir de exemplo a ser seguido pela jovem república.
No Brasil, as notícias da morte do Imperador "causaram um sentimento
genuíno de remorso entre aqueles que, apesar de não possuirem simpatia
pela restauração, reconheciam tanto os méritos quanto as realizações de
seu falecido governante."
Seus restos mortais, assim como os de sua esposa, foram finalmente
trazidos ao Brasil em 1921 a tempo do centenário da independência
brasileira em 1922 e o governo desejava dar a Pedro II condizentes aos
de Chefe de Estado. Um feriado nacional foi decretado e o retorno do Imperador como herói nacional foi celebrado por todo o país.
Milhares participaram da cerimônia principal no Rio de Janeiro. O
historiador Pedro Calmon descreveu a cena: "Os velhos choravam. Muitos
ajoelhavam-se. Todos batiam palmas. Não se distinguiam mais republicanos
e monárquicos. Eram brasileiros" Esta homenagem marcou a reconciliação do Brasil republicano com o seu passado monárquico.
Os historiadores possuem uma grande estima por Pedro II e seu
reinado. A literatura historiográfica que trata dele é vasta e, com a
exceção do período imediatamente posterior a sua queda, enormemente
positiva, e até mesmo laudatória. O Imperador Pedro II é comumente considerado por historiadores o maior brasileiro.
De uma maneira bem similar aos métodos que foram usados pelos
republicanos do começo do século XX, os historiadores apontam as
virtudes do Imperador como exemplos a serem seguidos, apesar de que
nenhum foi longe o bastante para propôr a restauração da monarquia. O
historiador Richard Graham comentou: "A maior parte dos historiadores do
século XX, além disso, têm olhado nostalgicamente para o período [do
reinado de Pedro II], usando suas descrições do Império para criticar—as
vezes sutilmente, outras vezes nem tanto—os regimes republicanos e
ditatoriais subsequentes do Brasil."
FORMAS DE TRATAMENTO E TÍTULOS
- 2 de dezembro 1825 – 7 de abril de 1831: Sua Alteza Imperial O Príncipe Imperial
- 7 de abril de 1831 – 15 de novembro de 1889: Sua Majestade Imperial O Imperador
"O Segundo Reinado, isto é, o período em que foi nosso Imperador D. Pedro II, durou cinquenta e oito anos, da abdicação de seu pai, D. Pedro I, em 1831, até a proclamação da república em 1889."