sexta-feira, 16 de novembro de 2012

D. PEDRO II - O IMPERADOR DO BRASIL


D. Pedro II
 
Dom Pedro II (2 de dezembro de 1825 — 5 de dezembro de 1891), alcunhado o Magnânimo, foi o segundo e último monarca do Império do Brasil, tendo reinado o país durante um período de 58 anos. Nascido no Rio de Janeiro, foi o filho mais novo do Imperador Dom Pedro I do Brasil e da Imperatriz Dona Maria Leopoldina de Áustria e, portanto, membro do ramo brasileiro da Casa de Bragança. A abrupta abdicação do pai e sua viagem para a Europa deixaram Pedro com apenas cinco anos Imperador e levaram a uma infância e adolescência triste e solitária. Obrigado a passar a maior parte do seu tempo estudando em preparação para imperar, ele conheceu momentos breves de alegria e poucos amigos de sua idade. Suas experiências com intrigas palacianas e disputas políticas durante este período afetaram grandemente o seu posterior caráter. Pedro II cresceu para se tornar um homem com forte senso de dever e devoção ao seu país e seu povo. Por outro lado, ele ressentiu-se cada vez mais de seu papel como monarca.
 
Tendo herdado um Império no limiar da desintegração, Pedro II transformou o Brasil numa potência emergente na arena internacional. A nação cresceu para distinguir-se de seus vizinhos hispano-americanos devido a sua estabilidade política, a liberdade de expressão zelosamente mantida, respeito aos direitos civis, a seu crescimento econômico vibrante e especialmente por sua forma de governo: uma funcional monarquia parlamentar constitucional. O Brasil também foi vitorioso em três conflitos internacionais (a Guerra do Prata, a Guerra do Uruguai e a Guerra do Paraguai) sob seu reinado, assim como prevaleceu em outras disputas internacionais e tensões domésticas. Pedro II impôs com firmeza a abolição da escravidão apesar da oposição poderosa de interesses políticos e econômicos. Um erudito, o Imperador estabeleceu uma reputação como um vigoroso patrocinador do conhecimento, cultura e ciências. Ele ganhou o respeito e admiração de estudiosos como Charles Darwin, Victor Hugo e Friedrich Nietzsche, e foi amigo de Richard Wagner, Louis Pasteur e Henry Wadsworth Longfellow, dentre outros.
 
Apesar de não haver desejo por uma mudança na forma de governo da maior parte dos brasileiros, o Imperador foi retirado do poder num súbito golpe de Estado que não tinha maior apoio fora de um pequeno grupo de líderes militares que desejam uma república governada por um ditador. Pedro II havia se cansado da posição de Imperador e se tornado desiludido quanto as perspectivas do futuro da monarquia, apesar de seu grande apoio popular. Ele não permitiu qualquer medida contra sua remoção e não apoiou qualquer tentativa de restauração da monarquia. Ele passou os seus últimos dois anos de vida no exílio na Europa, vivendo só e com poucos recursos.
 
O reinado de Pedro II veio a um final incomum — ele foi deposto apesar de altamente apreciado pelo povo e no auge de sua popularidade, e algumas de suas realizações logo foram desfeitas visto que o Brasil deslizou para um longo período de governos fracos, ditaduras e crises constitucionais e econômicas. Os homens que o exilaram logo começaram a enxergá-lo como um modelo para a república brasileira. Algumas décadas após sua morte, sua reputação foi restaurada e seus restos mortais foram trazidos de volta ao Brasil como os de um herói nacional. Sua reputação perdurou até o presente. Os historiadores o enxergam numa visão extremamente positiva, e ele é comumente considerado o maior brasileiro.

NASCIMENTO


D. Pedro II aos 02 anos de idade
Pedro nasceu as 02:30 da manhã do dia 2 de dezembro de 1825 no Paço de São Cristóvão, na cidade do Rio de Janeiro. Batizado em homenagem a São Pedro de Alcântara, seu nome completo era Pedro de Alcântara João Carlos Leopoldo Salvador Bibiano Francisco Xavier de Paula Leocádio Miguel Gabriel Rafael Gonzaga.
 
Pelo seu pai, o Imperador Pedro I, ele era membro do ramo brasileiro da Casa de Bragança e seu nome era precedido pelo honorífico "Dom" ("Senhor" or "Lorde") desde o nascimento. Ele foi neto do rei português Dom João VI e sobrinho de Dom Miguel I. Sua mãe foi a Arquiduquesa Maria Leopoldina da Áustria, filha de Francisco II, último monarca do Sacro Império Romano-Germânico. Pela sua mãe, Pedro era sobrinho de Napoleão Bonaparte e primo carnal dos Imperadores Napoleão II de França, Francisco José I de Áustria-Hungria e Dom Maximiliano I do México.
 
O único filho do sexo masculino legítimo de Pedro I a sobreviver a infância, ele foi oficialmente reconhecido como herdeiro do trono brasileiro com o título de Príncipe Imperial em 6 de Agosto de 1826. A Imperatriz Leopoldina morreu em 11 de dezembro de 1826, poucos dias após dar a luz a um menino natimorto, quando Pedro tinha um ano de idade. Pedro não guardou recordações de sua mãe, a não ser pelo o que depois foi contado a ele. A influência e lembrança de seu pai também apagou-se com o tempo, e não guardou fortes imagens de Pedro I, mas apenas algumas poucas e vagas lembranças.
 
Dois anos e meio após a morte de Leopoldina, o Imperador casou-se com Amélia de Leuchtenberg. O Príncipe Pedro passou pouco tempo com sua madrasta; no entanto, eles criaram um relacionamento afetuoso e mantiveram contato até a morte dela em 1873. O Imperador Pedro I abdicou em 7 de Abril de 1831, após um longo conflito com a facção liberal (que por sua vez iria mais tarde dividir-se nos dois partidos dominantes na monarquia, os partidos Conservador e Liberal) dominante no parlamento. Ele e Amélia partiram imediatamente para a Europa, onde Pedro I iria lutar para restaurar sua filha Maria II, cujo trono em Portugal havia sido usurpado por seu irmão Miguel I. Deixado para trás, o Príncipe Imperial Pedro tornou-se "Dom Pedro II, Imperador Constitucional e Defensor Perpétuo do Brasil".

EDUCAÇÃO


D. Pedro II aos 5 anos de idade
Ao deixar o país, o Imperador Pedro I selecionou três pessoas para cuidarem de seu filho e das filhas remanescentes. A primeira foi José Bonifácio de Andrada, seu amigo e líder influente da independência brasileira, nomeado tutor. A segunda foi Mariana Carlota de Verna Magalhães Coutinho (depois Condessa de Belmonte), que detinha o cargo de aia desde o nascimento de Pedro II. Quando bebê, Pedro II a chamava de "dadama", pois não pronunciava corretamente a palavra "dama". Ele a considerava sua mãe de criação, e continuaria a chamá-la por afeto de "dadama" mesmo já adulto. A terceira pessoa escolhida foi Rafael, um veterano negro da Guerra da Cisplatina. Rafael era um empregado do paço pelo qual Pedro I possuía uma profunda confiança e pediu para olhasse por seu filho—um pedido no qual levaria a termo até o resto de sua vida.
 
José Bonifácio foi destituído de sua posição em dezembro de 1833 e substituído por outro tutor. Pedro II passava os dias estudando, com apenas duas horas livres para recreação. Ele acordava as 06:30 da manhã e começava seus estudos as sete, continuando até as dez da noite, quando ia para cama. Um grande cuidado foi tomado em sua educação para incentivar valores e uma personalidade diferente da impulsividade e irresponsabilidade demonstradas pelo seu pai. Sua paixão por leitura o permitiu assimilar qualquer informação. Pedro II não era um gênio, mas era inteligente e tinha grande capacidade para acumular conhecimento com facilidade.
 
O Imperador teve uma infância solitária e infeliz. A perda súbita de seus pais o assombraria por toda a vida; ele teve poucos amigos de sua idade e o contato com suas irmãs era limitado. O ambiente em que foi criado o tornou uma pessoa tímida e carente que enxergava nos livros um refúgio e ao mesmo tempo uma fuga do mundo real.

COROAÇÃO ANTECIPADA


D. Pedro II sendo coroado Imperador do Brasil
A elevação de Pedro II ao trono imperial em 1831 levou a um período de crises, o mais conturbado da história do Brasil. Uma regência foi criada para governar em seu lugar até que atingisse a maioridade. Disputas entre facções políticas resultaram em diversas rebeliões e levaram a uma situação instável, quase anárquica, sob os regentes.
 
A possibilidade de diminuir a idade em que o jovem Imperador seria considerado maior de idade, ao invés de esperar até que completasse 18 anos de idade em 2 de dezembro de 1843, era levada em consideração desde 1835. A ideia era apoiada, de certa forma, pelos dois principais partidos políticos. Acreditava-se que aqueles que o auxiliassem a tomar as rédeas do poder estariam em posição para manipular o jovem inexperiente.
 
 Aqueles políticos que haviam surgido na década de 1830 haviam se tornado familiares aos perigos de governar. De acordo com o historiador Roderick J. Barman, "eles haviam perdido toda a fé em sua habilidade para governar o país por si só. Eles aceitaram Pedro II como uma figura de autoridade cuja presença era indispensável a sobrevivência do país." O povo brasileiro também apoiava a diminuição da maioridade, e consideravam Pedro II "o símbolo vivo da união da pátria"; esta posição "deu a ele, aos olhos do público, uma autoridade maior do que a de qualquer regente."
 
D. Pedro II aos 14 anos de idade
Aqueles que defendiam a imediata declaração de maioridade de Pedro II passaram uma moção requisitando ao Imperador que assumisse poderes plenos. Uma delegação foi enviada a São Cristóvão para perguntar se Pedro II aceitaria ou rejeitaria a declaração antecipada de sua maioridade. Ele respondeu timidamente que "sim" quando perguntado se desejaria que a maioridade fosse diminuida, e "já" quando indagado se desejaria que viesse a ter efeito naquele momento ou preferiria esperar até o seu aniversário em dezembro. No dia seguinte, em 23 de julho de 1840, a Assembléia Geral (o parlamento brasileiro) declarou formalmente Pedro II maior aos 14 anos de idade. Lá, a tarde, o jovem Imperador prestou o juramento de ascenção. Foi aclamado, coroado e consagrado em 18 de julho de 1841.

CASAMENTO


Esposa de D. Pedro II
 
O fim da regencia facciosa estabilizou o governo. Com um legítimo monarca no trono, a autoridade foi revestida numa única e clara voz. Pedro II percebia o seu papel como o de um árbitro, mantendo seus conceitos pessoais de lado para não afetarem o seu dever de desemaranhar disputas políticas partidárias. O jovem monarca era dedicado, realizando inspeções diárias pessoais e visitas a repartições públicas. Seus súditos eram impressionados com a sua aparente auto-confiança, apesar de que sua timidez e falta de desenvoltura eram vistas como defeitos. Seu jeito reservado de falar apenas uma ou duas palavras a cada vez tornavam conversações diretas extremamente difíceis. Sua natureza taciturna era manifestação de uma prevenção quanto a relações próximas que tinha origem nas experiências de abandono, intriga e traição que vivenciou na infância.
 
Por trás das cenas, um grupo de servos palacianos de alto nível e notáveis políticos tornou-se conhecido como "Facção Áulica" (e também "Clube da Joana") por estabelecerem influência sobre o jovem Imperador—e algum eram de fato próximos, como Mariana de Verna. Pedro II foi usado com maestria pelos áulicos para eliminar seus inimigos (reais ou imaginários) através da remoção de seus rivais. Acesso a pessoa do monarca por políticos rivais e as informações que este recebia eram cuidadosamente controladas. Uma rodada contínua de negócios de governos, estudos, eventos e aparições pessoais, utilizadas como distrações, mantiveram o Imperador ocupad, isolando-o efetivamente e impedindo-o de perceber a extensão do quanto estava sendo explorado.
 
Preocupados com a taciturnidade e imaturidade do Imperador, os áulicos acreditavam que um casamento poderia melhorar o seu comportamento e sua personalidade. O governo do Reino das Duas Sicílias ofereceu a mão da Princesa Teresa Cristina. Um retrato foi enviado e este revelava uma jovem e bela mulher, o que levou Pedro II a aceitar a proposta. Eles foram casados por procuração em Nápoles em 30 de maio de 1843. A nova Imperatriz do Brasil desembarcou no Rio de Janeiro em 3 de setembro.
 
Ao vê-la pessoalmente o Imperador aparentou estar claramente decepcionado. A pintura que havia recebido era claramente uma idealização; a Teresa Cristina real era baixa, um pouco acima do peso, coxa e apesar de não ser feia, também não era bonita. Ele fez pouco para esconder sua desilusão. Um observador afirmou que ele deu às costas a Teresa Cristina, outro disse que ele estava tão chocado que precisou sentar, e é possível que ambos tenham ocorrido. Naquela noite Pedro II chorou e reclamou para Mariana de Verna, "Eles me enganaram, Dadama!" Foram necessárias horas para convencê-lo de que o dever exigia que ele seguisse em frente com o matrimônio. Uma celebração nupcial, com a ratificação dos votos tomados por procuração e o conferimento de uma benção nupcial, ocorreu no dia seguinte, 4 de setembro.

ESTABELECIMENTO DA AUTORIDADE IMPERIAL


D. Pedro II aos 24 anos de idade
 
Por volta de 1846 Pedro II já havia amadurecido fisicamente e mentalmente. Ele não era mais o jovem inseguro de 14 anos idade que se permitia levar por boatos, por sugestões de complôs secretos, e outras táticas manipuladoras. Ele cresceu num homem, que com 1, 90 m de altura, olhos azuis e cabelos loiros, era descrito como belo. Com seu crescimento, suas fraquezas desapareceram e suas qualidades de caráter vieram a tona. Ele aprendeu não só a ser imparcial e dedicado, mas também cortês, paciente e sensato. A medida que ele começou a exercer por completo sua autoridade, suas novas habilidades sociais e dedicação no governo contribuíram grandemente para sua eficiência imagem pública. O historiador Roderick J. Barman o descreveu: "Ele mantinha suas emoções sob disciplina férrea. Ele nunca era rude e nunca perdia a cabeça. Ele era excepcionalmente discreto com as palavras e cauteloso na forma de agir."
 
No fim de 1845 e no início de 1846 o Imperador realizou uma viagem pelas províncias mais ao sul do Brasil, passando por São Paulo (do qual o atual Paraná então fazia parte), Santa Catarina e Rio Grande do Sul. Ele ficou surpreso pela recepção entusiástica e calorosa que recebeu em todas as províncias. Este sucesso o encourajou, pela primeira vez na vida, a agir de forma confiante por iniciativa e juízos próprios. Mais importante, este período viu o fim da Facção Áulica. Pedro II eliminou com sucesso toda e qualquer influência que os áulicos detinham ao removê-los de seu círculo íntimo ao mesmo tempo em que evitava uma perturbação pública.
 
Pedro II enfrentou três graves crises entre 1848 e 1852. O primeiro teste veio como a confrontação ao tráfico ilegal de escravos provenientes do continente africano. Este havia sido legalmente extinto como parte de um tratado com a Grã-Bretanha. O tráfico permaneceu inalterado, no entanto, e o parlamento britânico promulgou o Bill Aberdeen em 1845, autorizando navios de guerra britânicos de abordarem navios de carga brasileiros e apreender os que estivessem envolvidos no tráfico, Enquanto o Brasil se encontrava preso a este problema, a Revolta Praieira eclodiu em 6 de novemro de 1848. Se tratou de um conflito entre facções políticas locais na província de Pernambuco, e foi suprimida em março de 1849. A lei Eusébio de Queirós foi promulgada em 4 de setembro de 1850, provendo ao governo brasileiro autoridade ampla para combater o tráfico liegal de escravos. Com esta nova ferramenta, o Brasil passou a eliminar a importação de escravos. Por volta de 1852 esta primeria crise estava eliminada, com a Grã-Bretanha reconhecendo que o tráfico havia sido suprimido.
 
D. Pedro II com aproximadamente 30 anos de idade
 
A terceira crise envolveu um conflito com a Confederação Argentina relacionado a ascendência sobre os territórios ao redor do Rio da Prata e da livre navegação de seus afluentes. Desde a década de 1830 que o ditador argentino Dom Juan Manuel de Rosas apoiava rebeliões dentro do Uruguai e do Brasil.
 
Somente em 1850 que foi possível ao Brasil reagir a ameaça que representava Rosas. Uma aliança foi forjada entre o Brasil, Uruguai e províncias rebeldes argentinas, levando a Guerra do Prata e a consequente queda do governante argentino em Fevereiro de 1852. Nas palavras do historiador Roderick J. Barman, uma "porção considerável do crédito deve ser ... assinalado ao Imperador, cuja cabeça fria, tenacidade em seu propósito, e um senso do que era possível se revelaram indispensáveis."
 
O sucesso do Império em sua atuação nas três crises aumentou consideravelmente a estabilidade e prestígio da nação, e o Brasil emergiu como um poder no hemisfério. Internacionalmente, os europeus começaram a enxergar o país como personificador de ideais liberais familiares, como liberdade de imprensa e respeito constitucional a liberdades civis. Sua monarquia parlamentarista representativa se firmava em grave contraste a mistura de ditaduras e instabilidade endêmica as demais nações da América do Sul durante este período.

PEDRO II E A POLÍTICA


D. Pedro II com suas vestes imperiais
No início da década de 1850, o Brasil gozava de estabilidade interna e de prosperidade econômica. A nação estava sendo ligada de um ponto a outro através de linhas férreas, telegráficas e de navios a vapor, unindo-a em uma única entidade. Na opinião pública em geral, tanto doméstica quanto externa, esses feitos eram possíveis devido a duas razões: "ao seu governo como uma monarquia e pela personalidade de Pedro II".
 
Pedro II não era nem uma figura ornamental como os monarcas da Grã-Bretanha e nem um autocrata à maneira dos czares russos. O Imperador exercia poder através da cooperação com políticos eleitos, interesses econômicos e apoio popular. Esta interdependência e interação fizeram muito para influenciar a direção do reinado de Pedro II. Os mais notáveis sucessos políticos do Imperador foram alcançados devido a maneira cooperativa e de não-confrontação no qual ele agia quanto a interdependência e interação com interesses diversos e com as figuras partidárias nos quais ele tinha que lidar. Ele era impressionantemente tolerante, raramente se ofendendo com críticas, oposição, ou mesmo incompetência. Ele era cuidadoso em nomear somente candidatos altamente qualificados para posições no governo, e buscava coibir a corrupção. Ele não tinha autoridade constitucional para forçar a aceitação as suas iniciativas sem o devido apoio, e sua maneira colaboradora quanto a governar manteve a nação progredindo e permitiu ao sistema político funcionar com sucesso.
 
As incertezas de sua infância e a exploração sofrida nas mãos de outros durante a sua juventude fizeram com que o Imperador se determinasse a manter um controle sobre seu próprio destino. Em sua visão, para atingir a auto-determinação seria necessário obter poder necessário e mantê-lo. Ele usava sua ativa e essencial participação no direcionamento do governo como meios de influência. Sua direção se tornou indispensável, apesar de que nunca resultou em um "governo de um homem só". O Imperador respeitava as prerrogativas da lesgislatura, mesmo quando os políticos resistiam, postergavam ou frustravam seus objetivos e nomenações.
 
O sistema político nacional brasileiro assemelhava-se ao de outras nações parlamentaristas. O Imperador, como Chefe de Estado, pediria a um membro do Partido Conservador ou do Partido Liberal para formar um gabinete. O outro partido formaria a oposição na legislatura, como contrapeso ao novo goberno. "Em seu manejo dos dois partidos, ele tinha que manter uma reputação de imparcialidade, trabalhar de acordo com a vontade popular, e evitar qualquer imposição flagrante de sua vontade na cena política."
 
A presença ativa de Pedro II na cena política era parte importante da estrutura do governo, que também incluia o gabinete de ministros, a Câmara dos Deputados e o Senado (os últimos dois formavam a Assembléia Geral ou Parlamento). A maior parte dos políticos apreciavam e apoiavam o papel do Imperador. Muitos haviam vivido durante o período regencial, quando a falta de um monarca que poderia manter-se acima de interesses mesquinhos e próprios levou a anos de luta entre facções políticas. Suas experiências com a vida pública criaram neles a convicção de que o Imperador era "indispensável para paz e prosperidade permanente do Brasil."

VIDA DOMÉSTICA


O casamento de Pedro II e Teresa Cristina começou mal. Com maturidade, paciência, e o nascimento de seu primeiro filho, Afonso, o relacionamento melhorou. Mais tarde Teresa Cristina teve outros três filhos: Isabel, em 1846; Leopoldina, em 1847; e por último, Pedro, em 1848. Contudo, ambos os meninos morreram na infância, o que devastou o Imperador. Além de sofrer como pai, sua visão do futuro do Império mudou completamente. Apesar de sua afeição por suas filhas, ele não acreditava que a Princesa Isabel, apesar de sua herdeira, teria qualquer chance real de prosperar no trono. Ele acreditava que o seu sucessor precisava ser um homem para que a monarquia fosse viável. Ele passou cada vez mais a enxergar o sistema imperial como inexorávelmente preso a si, que não sobreviveria a sua morte. Isabel e sua irmã receberam uma educação excepcional, apesar de não terem sido preparadas para governar sobre a nação. Pedro II excluía deliberadamente Isabel da participação nos negócios e decisões de governo.
 
A Família Imperial
 
Por volta de 1850, Pedro II começou a ter casos discretos com outras mulheres. A mais famosa e duradoura dessas relações envolveu Luísa Margarida de Barros Portugal, Condessa de Barral, com quem ele formou uma relação de amizade romântica e íntima, mas não adúltera, depois que a nomenou aia de suas filhas em novembro de 1856. Por toda a sua vida, o Imperador manteve a esperança de encontrar a sua alma gêmea, algo que ele sentia ter sido roubado de si ao ser obrigado a casar por razões de Estado com uma mulher pelo qual ele nunca teve paixão. Isto é apenas um dos exemplos que ilustram a dupla personalidade do Imperador: uma que era "Dom Pedro II", que levava com afinco o seu dever no papel de Imperador que o destino havia lhe imposto, e outra que era "Pedro de Alcântara", que considerava o cargo imperial um fardo ingrato e que estava mais feliz nos mundos da literatura e da ciência.
 
Pedro II era o que atualmente se considera um trabalhador compulsivo, e sua rotina era exigente. Ele normalmente acordava as sete da manhã e não dormia antes das duas da madrugada do dia seguinte. Seu dia inteiro era reservado aos negócios de Estado e o pouco tempo livre disponível era gasto lendo e estudando. O Imperador vestia diariamente uma simples casaca, calça e gravata pretas. Para ocasiões especiais ele usava o uniforme de gala e só aparecia vestido com o manto imperial e portando a coroa e cetro duas vezes ao ano na abertura e encerramento da Assembléia Geral.
 
Pedro II obrigava políticos e funcionários públicos a seguirem seus exemplos de padrões exigentes. O Imperador exigia que os políticos trabalhassem oito horas por dia e adotou uma política exigente de seleção de funcionários públicos baseada na moralidade e mérito. Para estabelecer o padrão, ele vivia de forma simples. Bailes e eventos de corte cessaram após 1852. Ele também recusou as reiteradas propostas para aumentarem o valor de sua lista civil (Rs 800:000$000 por ano, ou cerca de $405,000 ou £90,000 em 1840) desde 1840, quando representava 3% dos gastos públicos, até 1889, quando havia caído para 0,5%. Ele recusava luxo, uma vez explicando: "Também entendo que despesa inútil é furto a Nação".

PATRONO DAS ARTES E DAS CIÊNCIAS


 
"Nasci para consagrar-me às letras e às ciências ", o Imperador comentou em seu diário pessoal em 1862. Ele sempre teve prazer em ler e encontrou nos livros um refúgio para a sua posição. Sua habilidade para relembrar trechos que havia lido no passado era notável. Os interesses de Pedro II eram diversos, e incluíam antropologia, geografia, geologia, medicina, Direito, estudos religiosos, filosofia, pintura, escultura, teatro, música, química, poesia e tecnologia. No final de seu reinado, havia três livrarias em São Cristóvão contendo mais de 60.000 livros. Sua paixão por linguística o levou por toda a vida a estudar novas línguas, e ele era capaz de falar e escrever não somente em português, mas também em latim, francês, alemão, inglês, italiano, espanhol, grego, árabe, hebraico, sânscrito, chinês, provençal e tupi. Tornou-se o primeiro brasileiro fotógrafo quando adquiriu uma câmera de daguerreótipo em março de 1840. Criou um laboratório fotográfico em São Cristóvão e outro de química e física. Ele também construiu um observatório astronômico no paço.
 
A erudição do Imperador surpreendeu Friedrich Nietzsche quando ambos se conheceram. Victor Hugo falou dele: "Senhor, és um grande cidadão, és o neto de Marco Aurélio", e Alexandre Herculano o chamou de um "príncipe cuja opinião geral o considera como o primeiro de sua era graças à sua mente dotada, e devido à sua constante aplicação desse dom para as ciências e cultura." Tornou-se membro da Royal Society, da Academia de Ciências da Rússia, das Reais Academias de Ciências e Artes da Bélgica e da Sociedade Geográfica Americana. Em 1875 foi eleito membro da Académie des Sciences francesa, uma honra dada anteriormente a somente dois outros chefes de estado: Pedro, o Grande e Napoleão Bonaparte. Pedro II trocou cartas com cientistas, filósofos, músicos e outros intelectuais.
 
Muitos de seus correspondentes se tornaram seus amigos, incluindo Richard Wagner, Louis Pasteur, Louis Agassiz, John Greenleaf Whittier, Michel Eugène Chevreul, Alexander Graham Bell, Henry Wadsworth Longfellow, Arthur de Gobineau, Frédéric Mistral, Alessandro Manzoni, Alexandre Herculano, Camilo Castelo Branco e James Cooley Fletcher.


D. Pedro II, amante da da literatura e do conhecimento.
 
Pedro II cedo percebeu que tinha a oportunidade para utilizar seu conhecimento que havia acumulado em uso prático para o benefício do Brasil. O Imperador considerava a educação como de importância nacional e era ele mesmo um exemplo do valor do aprendizado. Ele comentou: "Se eu não fosse Imperador, eu gostaria de ser um professor. Eu não conheço tarefa mais nobre do que direcionar as jovens mentes e preparar os homens de amanhã." A educação também colaborou no seu objetivo de criar um sentimento de identidade nacional brasileira. Seu reino viu a criação do Instituto Histórico e Geográfico Brasileiro para promover pesquisa e preservação nas ciências históricas, geográficas, culturais e sociais. A Imperial Academia de Música e Ópera Nacional e o Colégio Pedro II também foram fundados, o último servindo como modelo para escolas por todo o Brasil. A Imperial Escola de Belas Artes, estabelecida por seu pai, recebeu maior apoio e fortalecimento. Utilizando sua lista civil, Pedro II providenciou bolsas de estudo para brasileiros frequentarem universidades, escolas de arte e consevatórios musicais na Europa. Ele também financiou a criação do Instituto Pasteur, assim como a casa de ópera Bayreuth Festspielhaus de Wagner, além de outros projetos semelhantes. Seus esforços foram reconhecidos tanto em casa quanto no exterior. Charles Darwin falou dele: "O Imperador faz tanto pela ciência, que todo sábio é obrigado a demonstrar a ele o mais completo respeito."

POPULARIDADE E CONFLITO COM A GRÃ-BRETANHA


No fim de 1859, Pedro II partiu em viagem as províncias ao norte da capital, visitando Espírito Santo, Bahia, Sergipe, Alagoas, Pernambuco e Paraíba. Após quatro meses, ele retornou em fevereiro de 1860. A viagem foi um grande sucesso, com o Imperador sendo alegre e calorosamente recepcionado em todos os lugares.
 
A primeira metade dos anos 1860s viu paz e prosperidade no Brasil. Liberdades civis foram mantidas. Liberdade de expressão existia desde a independência do Brasil e continuou a ser defendida com veemência por Pedro II. O Imperador encontrou em jornais da capital e das províncias uma forma ideal de manter conhecimento da opinião pública e da situação em geral da nação. Outra maneira de monitorar o Império foi através de contato direto com seus súditos. Uma oportunidade para isto era durante as audiências públicas regulares nas terças e sábados, onde qualquer pessoa de qualquer classe social (inclusive escravos) poderiam ser admitidos e apresentar suas petições e estórias. Visitas a escolas, colégios, prisões, exibições, fábricas, quartéis, e outras aparições públicas apresentavam mais oportunidades a ele de reunir informação em primeira mão.
 
A tranquilidade desapareceu quando o cônsul britânico no Rio de Janeiro, William Dougal Christie, quase iniciou uma guerra entre sua nação e o Brasil. Christie, que acreditava na diplomacia das canhoneiras, enviou um ultimato contendo exigências abusivas provenientes de dois incidentes menores ocorridos no fim de 1861 e começo de 1862. O primeiro foi o naufrágio de uma barca comercial na costa do Rio Grande do Sul que resultou no saque de sua carga pela população local. O segundo foi a prisão de dois oficiais britânicos embriagados que causavam distúrbios nas ruas do Rio.
 
O governo brasileiro se recusou a ceder, e Christie enviou ordens para que navios de guerra britânicos capturassem embarcações mercantes brasileiras como indenização. A Marinha do Brasil foi preparada para o conflito iminente, foi ordenada a compra de artilharia costeira, assim como de encouraçados e as defesas nas costas tiveram permissão para atirar contra qualquer navio de guerra britânico que tentasse capturar embarcações mercantes brasileiras. Pedro II foi a maior razão da resistência do Brasil, ele rejeitou qualquer sugestão para que o país cedesse. A resposta veio como surpresa para Christie, que mudou seu tom e propôs um acordo pacífico através de arbitragem internacional. O governo brasileiro apresentou suas demandas e, ao ver a recusa do governo britânico, cortou relações diplomáticas com a Grã-Bretanha em junho de 1863.

PRIMEIRO VOLUNTÁRIO DA PÁTRIA


Com a ameaça de guerra com a Grã-Bretanha, o Brasil teve que dirigir suas atenções para suas fronteiras ao sul. Outra guerra civil havia começado no Uruguai jogando seus dois partidos políticos um contra o outro. O conflito interno levou ao assassinato de brasileiros e ao saque de suas propriedades no Uruguai. O governo brasileiro decidiu intervir, temeroso de aparentar fraqueza frente a possibilidade de conflito com os britânicos. Um exército brasileiro invadiu o Uruguai em Dezembro de 1864, iniciando a breve Guerra do Uruguai, que terminou em 20 de fevereiro de 1865.
 
Enquanto isso, em dezembro de 1864 o ditador do Paraguai, Francisco Solano López se aproveitou da situação para estabelecer seu país como poder regional. O exército paraguaio invadiu a província brasileira do Mato Grosso (atual estado do Mato Grosso do Sul), resultando na Guerra do Paraguai. Quatro meses depois, tropas paraguaias invadiram território argentino como um prelúdio de uma invasão à província brasileira do Rio Grande do Sul.
 
A par da anarquia reinante no Rio Grande do Sul e da incapacidade e incompetência de seus chefes militares em resistirem ao exército paraguaio, Pedro II decidiu ir à frente de batalha pessoalmente. Tanto o gabinete quanto a Assembleia Geral se recusaram a aquiescer ao desejo do Imperador. Após receber também a recusa do Conselho de Estado, Pedro II fez o seu memorável pronunciamento: "Se os políticos podem me impedir que siga como imperador, vou abdicar e seguir como voluntário da Pátria"—uma alusão aos brasileiros que se voluntariaram para ir a guerra e que ficaram conhecidos por toda a nação como "Voluntários da Pátria". O próprio monarca foi chamado popularmente de "Voluntário número um".
 
Pedro II partiu para o sul em Julho de 1865. Ele desembarcou no Rio Grande do Sul poucos dias depois e seguiu de lá por terra. A jornada foi realizada montada a cavalo e por carretas, e à noite o imperador dormia em tenda de campanha. Pedro II alcançou Uruguaiana, uma cidade brasileira ocupada pelo exército paraguaio, em 11 de setembro. Quando de sua chegada, a força paraguaia já se encontrava cercada.
 
 O Imperador cavalgou a uma distância de um tiro de rifle de Uruguaiana para demonstrar sua coragem, mas os paraguaios não o atacaram. Para evitar mais derramamento de sangue, ele ofereceu os termos de rendição ao comandante paraguaio, que os aceitou. A coordenação das operações militares por Pedro II' e seu exemplo pessoal teve um papel decisivo na repulsa à invasão paraguaia do território brasileiro. Havia uma crença generalizada de que a guerra estava próxima de seu fim e que a rendição de López era iminente. Antes de partir de Uruguaiana, ele recebeu o embaixador britânico Edward Thornton, que se desculpou publicamente em nome da Rainha Vitória e do governo britânico pela crise entre os dois Impérios. O Imperador considerou suficiente esta vitória diplomática sobre a mais poderosa nação do mundo e reatou relações amistosas entre as duas nações. Ele retornou ao Rio de Janeiro e foi recebido com enormes celebrações.

CONCLUSÃO DA GUERRA


Contra todas as expectativas, a guerra prosseguiu por cinco anos. Durante este período, o tempo e a energia de Pedro II foram dedicados ao conflito. Ele se ocupou no recrutamento e equipamento de tropas para reforçar as linhas de frente de batalha, e na construção de novos navios de guerra. Ao mesmo tempo procurou impedir que querelas entre os partidos políticos prejudicassem o esforço de guerra. Sua recusa em aceitar qualquer resultado que não a total vitória sobre o inimigo foi essencial para o resultado final da guerra. Sua tenacidade foi recompensada com a notícia de que López morrera em batalha em 1 de março de 1870, levando ao fim do conflito bélico.
 
Mais de 50 mil soldados brasileiros morreram e os custos da guerra foram equivalentes a onze vezes a receita anual do governo. No entanto, o país se encontrava tão próspero que o governo pôde quitar o débito em apenas dez anos. O conflito foi um estímulo para a produção e para o crescimento econômico nacional.  Pedro II recusou a proposta da Assembléia Geral de erguer uma estátua equestre sua para comemorar a vitória e ao invés preferiu utilizar o dinheiro necessário para construir escolas de ensino primário.

UM ABOLICIONISTA DO TRONO


Carruagem oficial de D. Pedro II
 
A vitória diplomática sobre o Império Britânico e a vitória militar sobre o Uruguai em 1865, seguida da bem-sucedida conclusão da guerra com o Paraguai em 1870, resultou no que foi chamado de "era dourada" e apogeu do Império brasileiro. A década de 1870 foram bons anos para o Brasil e a popularidade do imperador era maior do que nunca. Progressos foram feitos tanto na esfera política quanto na social e todos os segmentos da sociedade foram beneficiados com as reformas e pela prosperidade nacional crescente. A reputação internacional do Brasil melhorou consideravelmente graças a sua estabilidade política e potencial de investimento. O império era visto como uma nação moderna e progressiva sem equivalente nas Américas, com a única exceção dos Estados Unidos. A economia começou rapidamente a crescer e a imigração floreceu. Estradas de ferro, navegação e outros projetos de modernização foram adotados. Com "a escravidão fadada à extinção e outras reformas projetadas, as perspectivas de 'avanços morais e materiais' pareciam vastas".
 
Em 1870, poucos brasileiros eram contrários à escravidão, e ainda menos brasileiros opunham-se publicamente à ela. Pedro II era um dos poucos que o faziam, considerando a escravidão "uma vergonha nacional". O imperador nunca possuiu escravos. Em 1823, escravos formavam 29% da população brasileira, mas essa porcentagem caiu para 15,2% em 1872. A abolição da escravatura era um assunto delicado no Brasil. Escravos eram usados por todos, do mais rico ao mais pobre. Pedro II desejava por fim à escravidão gradualmente para pouco impactar a economia nacional. Ele conscientemente ignorava o crescente prejuízo político à sua imagem e à monarquia em consequência de seu suporte à escravidão.
 
Coroa de D. Pedro II
O imperador não tinha autoridade constitucional para diretamente intervir e por um fim na escravidão. Ele precisaria usar todas seus esforços para convencer, influenciar e ganhar suporte entre os políticos para atingir sua meta. Seu primento movimento público contra a escravidão ocorreu em 1850, quando ele ameaçou abdicar a menos que a Assembléia Geral declarasse o tráfico negreiro no Atlântico ilegal.

Após a fonte estrangeira do fornecimento de novos escravos ter sido eliminada, Pedro II dedicou sua atenção no começo dos anos 1860s em remover a fonte restante: a escravidão de crianças nascidas como escravos. Legislação foi feita através de sua iniciativa, mas o conflito com o Paraguai atrasou a discussão da proposta na Assembléia Geral. Pedro II abertamente pediu a gradual erradicação da escravidão na Fala do trono em 1867. Ele foi pesadamente criticado, e seu movimento foi condenado como "suicídio nacional". 
 
Opositores frequentemente diziam que "a abolição era seu desejo pessoal e não o desejo da nação" Por fim, foi decretada a lei "Lei do Ventre Livre" em 28 de setembro de 1871, sob a qual todas crianças nascidas de mulheres escravas após aquela data eram consideradas livres.

VIAGEM A EUROPA E NORTE DA ÁFRICA


D. Pedro II em sua viagem ao Egito.
 
Em 25 de maio de 1871 o imperador e sua esposa viajaram à Europa. Ele há tempo ansiava por férias no exterior. Quando chegou a notícia de que sua filha mais nova, a princesa Leopoldina, então com 23 anos, havia morrido de tifo em Viena, ele finalmente encontrou um motivo forte para partir. Ao chegar em Lisboa, imediatamente dirigiu-se ao Palácio das Janelas Verdes, onde encontrou-se com sua madrasta, Amélia de Leuchtenberg, que não via há quarenta anos. O encontro foi emocionante e Dom Pedro escreveu no seu diário: "Eu chorei de felicidade e também de dor por ver minha mãe tão afetuosa para comigo, mas também por vê-la tão idosa e doente".
 
Em seguida ele visitou a Espanha, a Grã-Bretanha, a Bélgica, a Alemanha, Áustria, Itália, Egito, Grécia, Suíça e França. Em Coburgo visitou a tumba de sua filha. Sua impressão sobre a viagem foi de um tempo de "alívio e liberdade". Viajando com o nome de "Dom Pedro de Alcântara", insistia em ser tratado informalmente e em parar apenas em hotéis. Passava seus dias em passeios e encontrando com cientistas e outros intelectuais com quem partilhava interesses. A viagem foi um sucesso, e suas maneiras nobres e curiosidade valeram-lhe notícias respeitosas nas nações que visitou. Este prestígio aumentou quando chegaram à Europa as notícias sobre a aprovação da Lei do Ventre Livre. Ele e sua comitiva voltaram em triunfo ao Brasil em 31 de março de 1872.

A QUESTÃO RELIGIOSA



Logo após sua chegada Dom Pedro enfrentou uma crise inesperada, a chamada Questão religiosa. No Brasil vigorava o regime de união entre Igreja e Estado, o padroado, significando que o governo exercia controle sobre vários aspectos da vida religiosa nacional, nomeando padres e bispos para suas designações e pagando-lhes salário. Reservava-se também o direito de aprovar ou não as determinações canônicas da Santa Sé. Na mesma época, sob influência da corrente ultramontana do catolicismo, conservadora e ortodoxa, a qual reivindicava a supremacia absoluta da Igreja em todos os assuntos, os bispos de Olinda e do Pará interditaram irmandades sob sua jurisdição alegando que entre seus membros havia maçons, uma vez que a maçonaria era condenada pela Igreja. Entretanto, legalmente a maçonaria era autorizada a funcionar no Brasil. Havia inclusive inúmeros padres maçons, pois no país havia uma forte tendência liberal.
 
O governo tentou fazer com que os bispos obedecessem às leis em vigor, mas ambos recusaram, alegando fidelidade às orientações ultramontanas. Os bispos acabaram presos e condenados a trabalhos forçados em 1874. Pouco depois a sentença foi comutada em prisão simples. O imperador era católico, mas aceitava algumas ideias liberais, como a liberdade de pensamento e a teoria da evolução. Nem ele nem a Igreja desejavam um rompimento, mas o governo não poderia tolerar uma desobediência explícita à lei. A questão religiosa desencadeou uma grande polêmica, que nem a anistia dos bispos em 1875 aplacou, vindo a enfraquecer a posição do governo.

VIAGEM AOS EUA, EUROPA E ORIENTE MÉDIO


Mais uma vez o Imperador viajou para o exterior, desta vez indo aos Estados Unidos. Ele foi acompanhado por seu leal criado Rafael, que o criou na infância. Pedro II chegou à Nova Iorque em 15 de abril de 1876, e de lá viajou pelo interior do país; indo até São Francisco no oeste, Nova Orleães no sul, Washington, D.C., no noroeste, e Toronto, Canadá. Sua viagem foi um "triunfo completo", tendo Pedro II causado uma profunda impressão no povo americano por sua simplicidade e gentileza. Depois atravessou o Atlântico, onde visitou a Dinamarca, Suécia, Finlândia, Rússia, o Império Otomano e a Grécia. Em sequência foi para a Terra Santa, Egito, Itália, Áustria, Alemanha, França, Grã-Bretanha, Países Baixos, Suíça e Portugal. Ele voltou ao Brasil em 22 de setembro de 1877.
 
As viagens de Pedro II ao exterior causaram um profundo impacto psicológico. Enquanto viajava, ele estava praticamente livre das restrições impostas pelo seu cargo. Sob o pseudônimo "Pedro de Alcântara", ele aproveitava a satisfação de se mover como uma pessoa comum, até mesmo viajando por trem apenas com sua esposa. Apenas quando viajava para fora era que o Imperador podia se desvincilhar das formalidades e exigências da vida que conhecia no Brasil. Se tornou mais difícil se readaptar às suas rotinas como Chefe de Estado ao retornar. Com a morte prematura de seus filhos do sexo masculino, a fé do Imperador no futuro da monarquia se evaporara. Suas viagens para o exterior agora o tornaram ressentido do peso que o destino colocara em seus ombros quando era apenas uma criança de cinco anos de idade. Se antes ele não tinha interesse em assegurar o trono para a próxima geração, agora ele não tinha interesse sequer em mantê-lo em seu tempo de vida.

DECADÊNCIA


Na década de 1880 o Brasil continuou a prosperar e a diversidade social aumentou notavelmente, testemunhando inclusive o primeiro movimento pelos direitos da mulher. Por outro lado, as cartas que Pedro II escreveu neste período revelam um homem cansado do mundo, cada vez mais alienado e pessimista. Ele permanecia fiel às suas obrigações como Chefe de Estado e era meticuloso em seu cumprimento, apesar de frequentemente sem entusiasmo. Por causa do crescente "indiferentismo do Imperador pela sorte do destino do regime" e por sua falta de atitude em defesa do sistema imperial quando ele começou a ser questionado, historiadores têm atribuído a "principal, talvez única, responsabilidade" pela queda da monarquia à Pedro II.
 
Princesa Isabel e D. Pedro II
Após a sua experiência com os perigos e obstáculos de governo, as figuras políticas que surgiram na década de 1830 olharam para o Imperador como provedor de uma fonte fundamental de autoridade essencial tanto para governar quanto para a sobrevivência nacional. Estes velhos estadistas morreram ou se retiraram da vida pública até que, nos anos 1880, eles haviam sido quase todos substituídos por uma geração mais nova de políticos que não haviam experienciado os primeiros anos do reinado de Pedro II, quando perigos internos e externos ameaçaram a existência da nação. Eles haviam apenas conhecido uma administração estável e prosperidade. Em grande contraste com aqueles da era anterior, a nova geração não via razão para manter e defender a instituição imperial como força benéfica unificadora para a nação. O papel de Pedro II em atingir uma era de unidade nacional, estabilidade e bom governo eram agora ignorados e desconsiderados pelas elites dirigentes. Por seu sucesso, o Imperador havia tornado sua posição desnecessária.
 
A falta de um herdeiro que pudesse prover de forma possível uma nova direção para a nação também diminuiu as perspectivas a longo termo para a continuação da monarquia brasileira. O Imperador amava sua filha Isabel, mas ele considerava a ideia de uma sucessora feminina como contrária ao papel requerido de um governante do Brasil. Ele enxergava a morte de seus dois filhos homens como um sinal de que o Império estava destinado a ser suplantado. A resistência a aceitar uma mulher governante também era compartilhada pela classe política. Apesar da Constituição permitir a sucessão feminina ao trono, o Brasil ainda era um país bastante tradicional, e apenas um sucessor masculino era percebido como capaz de ser um Chefe de Estado.
 
O republicanismo era um credo elitista que nunca floresceu no Brasil, e que tinha pouco apoio nas províncias. Mas uma ameaça séria à Monarquia foi a combinação de ideias republicanas e a disseminação do Positivismo entre os oficiais de baixa e média patente no exército, o que levou a indisciplina nas tropas. Eles sonhavam com uma república ditatorial que acreditavam ser superior a monarquia democrática liberal.

A ABOLIÇÃO DA ESCRAVATURA E O GOLPE DE ESTADO REPUBLICANO


Assinatura da Lei Áurea decretando o fim da escravidão do Brasil
 
A saúde do Imperador declinava consideravelmente, e seus médicos sugeriram que ele buscasse tratamento na Europa. Ele partiu em 30 de junho de 1887. Enquanto em Milão ele passou duas semanas entre a vida e a morte, recebendo até mesmo a extrema unção. Em 22 de maio de 1888, ainda na cama se recuperando, recebeu a notícia de que a escravidão havia sido abolida no Brasil. Deitado na cama, com uma voz fraca e lágrimas nos olhos, ele disse: "Grande povo! Grande povo!". Pedro II retornou ao Brasil e desembarcou no Rio de Janeiro em 22 de agosto de 1888. O "país inteiro o recebeu com um entusiasmo jamais visto. Da capital, das províncias, de todos os lugares, chegaram provas de afeição e veneração." Com a devoção expressada pelos brasileiros com o retorno do Imperador e da Imperatriz da Europa, a monarquia aparentava gozar de apoio inabalável e parecia estar no ápice de sua popularidade.
 
A nação brasileira desfrutava de grande prestígio no exterior durante os anos finais do Império, e havia se tornado um poder emergente no cenário internacional. Previsões de perturbações na economia e na mão-de-obra causadas pela abolição da escravatura não se realizaram e a colheita de café de 1888 foi bem-sucedida. Contudo, o fim da escravidão desencadeou em uma transferência explícita do apoio ao republicanismo pelos grandes fazendeiros de café. Detentores de grande poder político, econômico e social no país, os fazendeiros apreciaram a abolição como confisco de propriedade privada. Para evitar uma reação republicana, o governo aproveitou o crédito fácil disponível no Brasil como resultado de sua prosperidade. Ele disponibilizou grandes empréstimos a juros baixos aos cafeicultores e distribuiu fartamente títulos de nobreza e outras honrarias a figuras políticas influentes que haviam se tornado descontentes. O governo também tomou medidas indiretas para administrar a crise com os militares revivendo a moribunda Guarda Nacional, que então existia praticamente apenas no papel.
 
Princesa Isabel
As medidas tomadas pelo governo alarmaram os republicanos civis e os militares positivistas. Estes entenderam as ações do governo como uma ameaça aos seus propósitos, o que os incitou à reação. A reorganização da Guarda Nacional foi iniciada pelo gabinete em agosto de 1889, e a criação de uma força rival levou os dissidentes no corpo de oficiais do exército a cogitarem atos extremos. Para ambos os grupos, republicanos e militares dissidentes, havia se tornado um caso de "agora ou nunca". Apesar de não haver desejo entre a maior parte da população brasileira para uma mudança na forma de governo, os republicanos civis passaram a pressionar os oficiais civis a derrubar a monarquia.
 
Os positivistas realizaram um golpe de Estado em 15 de novembro de 1889 e instituíram uma república. As poucas pessoas que presenciaram o acontecimento não perceberam que se tratava de uma rebelião. A historiadora Lídia Besouchet afirmou que "[r]aramente uma revolução havia sido tão minoritária." Durante todo o processo Pedro II não demonstrou qualquer emoção, como se não se importasse com o desenlance. Ele rejeitou todas as sugestões para debelar a rebelião feitas por políticos e militares. Quando soube da notícia de sua deposição, simplesmente comentou: "Se assim é, será minha aposentadoria. Trabalhei demais e estou cansado. Agora vou descansar". Ele e sua família foram mandados para o exílio na Europa, partindo em 17 de novembro.

ÚLTIMOS ANOS


Os últimos anos de D. Pedro II
Houve resistência monarquista significante após a queda do Império, o qual foi sempre reprimida. Distúrbios contra o golpe ocorreram, assim como batalhas renhidas entre tropas monarquistas do Exército contra milícias republicanas. O "novo regime suprimiu com rápida brutalidade e total desdenho por todas as liberdades civis quaisquer tentativas de criar um partido monarquista ou de publicar jornais monarquistas. A Imperatriz Teresa Cristina faleceu poucos dias após a sua chegada à Europa e Isabel e sua família se mudaram para outro lugar enquanto seu pai se estabeleceu em Paris. Seus últimos dois anos de vida foram solitários e melancólicos, vivendo em hotéis modestos com quase nenhum recurso e escrevendo em seu diário sobre sonhos em que lhe era permitido retornar ao Brasil.
 
Certo dia realizou um longo passeio pelo rio Sena em carruagem aberta, apesar da temperatura extremamente baixa. Ao retornar para o hotel Bedford à noite, sentiu-se resfriado. A doença evoluiu nos dias seguintes até tornar-se uma pneumonia. O estado de saúde de Pedro II rapidamente piorou até a sua morte às 00:35 da manhã do dia 5 de dezembro de 1891. Suas últimas palavras foram: "Deus que me conceda esses últimos desejos—paz e prosperidade para o Brasil." Enquanto preparavam seu corpo, um pacote lacrado foi encontrado no quarto com uma mensagem escrita pelo próprio Imperador: "É terra de meu país, desejo que seja posta no meu caixão, se eu morrer fora de minha pátria". O pacote que continha terra de todas as províncias brasileiras foi colocada dentro do caixão.
 
A Princesa Isabel desejava realizar uma cerimônia discreta e íntima, mas acabou por aceitar o pedido do governo francês de realizar um funeral de Chefe de Estado. No dia seguinte, milhares de personalidades compareceram a cerimônia realizada em Madeleine. Além da família de Pedro II, estavam: Francisco II, ex-rei das Duas Sicílias, Isabel II, ex-rainha da Espanha, Luís Filipe, Conde de Paris, e diversos outros membros da realeza européia. Também estavam presentes o General Joseph Brugère, representando o Presidente Sadi Carnot, os presidentes do Senado e da Câmara, assim como senadores, deputados, diplomatas e outros representantes do governo francês. Quase todos os membros da Academia Francesa, do Instituto de França, da Academia de Ciências Morais e da Academia de Inscrições e Belas-Artes também participaram. Representantes de outros governos, tanto do continente americano, quanto europeu se fizeram presentes, além de países longínquos como Turquia, China, Japão e Pérsia. Em seguida o caixão foi levado em cortejo até a estação de trem, de onde partiria para Portugal. Apesar da chuva incessante e da temperatura extremamente baixa, cerca de 300.000 pessoas assistiram ao evento. A viagem prosseguiu até a Igreja de São Vicente de Fora, próximo a Lisboa, onde o corpo de Pedro II foi depositado no Panteão dos Braganças em 12 de dezembro.

O corpo de D. Pedro II
 
Os membros do governo republicano brasileiro, "temerosos da grande repercussão que tivera a morte do Imperador", negaram qualquer manifestação oficial. Contudo, o povo brasileiro não ficou indiferente ao falecimento de Pedro II, pois a "repercussão no Brasil foi também imensa, apesar dos esforços do governo para a abafar. Houve manifestações de pesar em todo o país: comércio fechado, bandeiras a meio pau, toques de finados, tarjas pretas nas roupas, ofícios religiosos". Foram realizadas "missas solenes por todo o país, seguidas de pronunciamentos fúnebres em que se enalteciam D. Pedro II e o regime monárquico".

LEGADO


Os brasileiros se mantiveram apegados a figura do imperador popular a quem consideravam um herói e continuaram a vê-lo como o Pai do Povo personificado. Esta visão era ainda mais forte entre os brasileiros negros ou de ascendência negra, que acreditavam que a monarquia representava a libertação. O fenômeno de apoio contínuo ao monarca deposto é largamente devido a uma noção generalizada de que ele foi "um governante sábio, benevolente, austero e honesto" Esta visão positiva de Pedro II, e nostalgia por seu reinado, apenas cresceu a medida que a nação rapidamente caiu sob o efeito de uma série de crises políticas e econômicas que os brasileiros acreditavam terem ocorridas devido a deposição do Imperador. Ele nunca cessou de ser considerado um herói popular, mas gradualmente voltaria a ser um herói oficial.

Tumba de Pedro II e de Teresa Cristina no Mausoléu Imperial, dentro da Catedral de Petrópolis
 
Surpreendentemente fortes sentimentos de culpa se manifestaram dentre os republicanos, que se tornaram cada vez mais evidentes com a morte do Imperador no exílio. Eles elogiavam Pedro II, que era visto como um modelo de ideais republicanos, e a era imperial, que acreditavam que deveria servir de exemplo a ser seguido pela jovem república. No Brasil, as notícias da morte do Imperador "causaram um sentimento genuíno de remorso entre aqueles que, apesar de não possuirem simpatia pela restauração, reconheciam tanto os méritos quanto as realizações de seu falecido governante."
 
Seus restos mortais, assim como os de sua esposa, foram finalmente trazidos ao Brasil em 1921 a tempo do centenário da independência brasileira em 1922 e o governo desejava dar a Pedro II condizentes aos de Chefe de Estado. Um feriado nacional foi decretado e o retorno do Imperador como herói nacional foi celebrado por todo o país. Milhares participaram da cerimônia principal no Rio de Janeiro. O historiador Pedro Calmon descreveu a cena: "Os velhos choravam. Muitos ajoelhavam-se. Todos batiam palmas. Não se distinguiam mais republicanos e monárquicos. Eram brasileiros" Esta homenagem marcou a reconciliação do Brasil republicano com o seu passado monárquico.
 
Os historiadores possuem uma grande estima por Pedro II e seu reinado. A literatura historiográfica que trata dele é vasta e, com a exceção do período imediatamente posterior a sua queda, enormemente positiva, e até mesmo laudatória. O Imperador Pedro II é comumente considerado por historiadores o maior brasileiro. De uma maneira bem similar aos métodos que foram usados pelos republicanos do começo do século XX, os historiadores apontam as virtudes do Imperador como exemplos a serem seguidos, apesar de que nenhum foi longe o bastante para propôr a restauração da monarquia. O historiador Richard Graham comentou: "A maior parte dos historiadores do século XX, além disso, têm olhado nostalgicamente para o período [do reinado de Pedro II], usando suas descrições do Império para criticar—as vezes sutilmente, outras vezes nem tanto—os regimes republicanos e ditatoriais subsequentes do Brasil."

FORMAS DE TRATAMENTO E TÍTULOS

  • 2 de dezembro 1825 – 7 de abril de 1831: Sua Alteza Imperial O Príncipe Imperial
  • 7 de abril de 1831 – 15 de novembro de 1889: Sua Majestade Imperial O Imperador
A forma de tratamento e o título completo do monarca foram "Sua Majestade Imperial Dom Pedro II, Imperador Constitucional e Defensor Perpétuo do Brasil".

"O Segundo Reinado, isto é, o período em que foi nosso Imperador D. Pedro II, durou cinquenta e oito anos, da abdicação de seu pai, D. Pedro I, em 1831, até a proclamação da república em 1889."

segunda-feira, 18 de junho de 2012

O SENHOR DOS ANÉIS

O Senhor dos Anéis - O Livro
 O Senhor dos Anéis (título original em inglês: The Lord of the Rings) é um romance de fantasia criado pelo escritor, professor e filólogo britânico J.R.R. Tolkien. A história começa como sequência de um livro anterior de Tolkien, O Hobbit (The Hobbit), e logo se desenvolve numa história muito maior. Foi escrito entre 1937 e 1949, com muitas partes criadas durante a Segunda Guerra Mundial. Embora Tolkien tenha planejado realizá-lo em volume único, foi originalmente publicado em três volumes entre 1954 e 1955, e foi assim, em três volumes, que se tornou popular. Desde então foi reimpresso várias vezes e foi traduzido para mais de 40 línguas, somando os 3 livros publicados já venderam mais de 160 milhões de cópias, tornando-se um dos trabalhos mais populares da literatura do século XX
A primeira edição em português, da extinta editora Artenova (tradução de Antônio Rocha e Alberto Monjardim), era constituída por seis volumes, o primeiro dos quais intitulava-se "Terra Mágica". A segunda edição em português foi editada em Portugal durante os anos de 1980, pela editora Europa América.
A história de O Senhor dos Anéis ocorre em um tempo e espaço imaginários, a Terceira Era da Terra Média, que é um mundo inspirado na Terra real, mais especificamente, segundo Tolkien, numa Europa mitológica, habitado por Humanos e por outras raças humanóides: Elfos, Anões e Orcs. Tolkien deu o nome a esse lugar a palavra do inglês moderno, Middle-earth (Terra-Média), derivado do inglês antigo, Middangeard, o reino onde humanos vivem na mitologia Nórdica e Germânica. O próprio Tolkien disse que pretendia ambientá-la na nossa Terra, aproximadamente 6000 anos atrás, embora a correspondência com a geografia e a história do mundo real fosse frágil.
A história narra o conflito contra o mal que se alastra pela Terra-média, através da luta de várias raças - Humanos, Anões, Elfos, Ents e Hobbits - contra Orcs, para evitar que o "Anel do Poder" volte às mãos de seu criador Sauron, o Senhor do Escuro. Partindo dos primórdios tranquilos do Condado, a história muda através da Terra-média e segue o curso da Guerra do Anel através dos olhos de seus personagens, especialmente do protagonista, Frodo Bolseiro. A história principal é seguida por seis apêndices que fornecem uma riqueza do material de fundo histórico e linguístico.
Juntamente com outras obras de Tolkien, O Senhor dos Anéis foi objeto de extensiva análise de seus temas e origens literárias. Embora um grande trabalho tenha sido feito, a história é meramente o resultado de uma mitologia na qual Tolkien trabalhava desde 1917. As influências sobre este antigo trabalho e sobre a história do Senhor dos Anéis englobam desde elementos de filologia, mitologia, industrialização e religião até antigos trabalhos de fantasia, bem como as experiências de Tolkien na Primeira Guerra Mundial. O Senhor dos Anéis teve um efeito grande na fantasia moderna, e o impacto de trabalhos de Tolkien é tal que o uso das palavras "Tolkienian" e "Tolkienesque" ("Tolkieniano" e "Tolkienesco") ficou gravado no dicionário Oxford English Dictionary.
A enorme e permanente popularidade de O Senhor dos Anéis levou a numerosas referências na cultura pop, à criação de muitas sociedades de fãs da obra de Tolkien e à publicação de muitos ensaios sobre Tolkien e seu trabalho. O Senhor dos Anéis inspirou (e continua inspirando) trabalhos de arte, a música, cinema e televisão, videogames e uma literatura paralela. O cineasta estadunidense George Lucas admitiu em uma entrevista que sua saga, Star Wars, foi inspirada na saga de Tolkien. Adaptações do livro foram feitas para rádio, teatro e cinema. Em 2001 – 2003 foi lançado o filme A Trilogia de O Senhor dos Anéis (The Lord of the Rings film trilogy), que promoveu uma nova explosão de interesse pelo Senhor dos Anéis e por outras obras do autor.

Estrutura da obra

Já foi dito que a obra deveria ser lançada em um único volume, mas foi dividido em três como forma de baratear os custos (havia racionamento de papel na Inglaterra do pós-guerra). Cada volume é dividido em dois tomos ou "livros".
O primeiro volume, A Sociedade do Anel, publicado em 1954, contém um prólogo, no qual são dadas as características dos Hobbits.
O segundo volume, As Duas Torres, publicado alguns meses depois de A Sociedade do Anel, também em 1954, continua a história original com mais personagens.
A saga termina com a publicação em 1955 do terceiro volume, intitulado O Retorno do Rei, que contém diversos apêndices explicativos sobre a história, as línguas, a cronologia da narrativa e outras informações adicionais sobre a mitologia criada por Tolkien para a sua Terra-Média.
J. R. R. Tolkien
O pano de fundo da história é revelado enquanto o livro progride, e elaborado também nos apêndices, no Silmarillion e em Contos Inacabados, os últimos publicados após a morte de Tolkien. Começa milhares de anos antes da ação no livro, com a ascensão do epônimo senhor dos anéis, senhor do escuro Sauron, possuidor de grandes poderes supernaturais, que governava o temido reino de Mordor. No fim da Primeira Era da Terra Média, Sauron sobreviveu à catastrófica derrota e o exílio de seu mestre, a figura fundamental do mal, Morgoth e durante a Segunda Era Sauron planejou ganhar o domínio sobre a Terra Média. Sob aparência de "Annatar" ou senhor dos presentes ajudou os elfos ferreiros de Eregion, e fomentou a forja dos anéis mágicos que conferenciaram vários poderes e habilidades aos seus portadores, mas Celebrimbor, líder dos elfos ferreiros (muito talentoso e neto de Fëanor que criara as Silmarils na Primeira Era), os tinha forjado independentemente de Sauron. Os mais importantes destes foram os dezenove anéis do poder ou os Grandes Anéis.
Então Sauron forjou secretamente um Grande Anel para si próprio, o Um Anel, pois planejava escravizar os portadores dos outros anéis do poder. Este plano falhou em parte porque os elfos tomaram ciência dele e esconderam seus anéis, os Três Anéis Élficos, dando-os aos Sábios de seu tempo (Galadriel, Círdan e Gil-Galad). Nesses, Sauron jamais tocou. Sauron lançou-se então à guerra, durante a qual capturou dezesseis dos anéis do poder e os distribuiu aos senhores e aos reis dos anões e dos homens. Estes anéis foram conhecidos como os sete e os nove respectivamente. Os Senhores Anões se provaram demasiado resistentes à escravização, embora seu desejo natural para a riqueza, especialmente ouro, aumentasse; isto trouxe muitos conflitos entre eles e outras raças. Dos sete Anéis que tinham sido dados aos Senhores Anões, Sauron recuperou os que não tinham sido destruídos, e dos nove Anéis presenteados aos Homens, Sauron trouxe todos para sua custódia. Esses humanos portadores dos Nove lentamente se corromperam e transformaram-se consequentemente nos morto-vivos, Nazgûl, os Espectros do Anel, os servos mais temidos de Sauron.
O Um Anel
Após 1500 anos, o Numenorianos enviaram uma grande força para destruir Sauron, conduzida por seu poderoso monarca Ar-Pharazôn, o Dourado. Abandonado por seus servos, Sauron rendeu-se e foi feito prisioneiro de Númenor. Entretanto, com perspicácia e força de vontade, começou a aconselhar o rei e envenenou as mentes do Númenorianos contra os Valar. Iludiu seu rei, aconselhando-o a invadir as Terras Imortais para conseguir ser imortal como os Valar e os elfos. Os Valar, ao saberem da invasão, invocaram Eru Ilúvatar, que causou um deslizamento de terras sobre os Númenorianos, e abriu uma grande abismo no mar, destruindo Númenor e separando as Terras Imortais das Mortais. O corpo físico de Sauron foi destruído, mas seu espírito retornou a Mordor e assumiu um nova e terrível forma. Alguns Númenorianos (chamados de Fiéis por não terem deixado de adorar Ilúvatar) também obtiveram sucesso em escapar para a Terra-média. Esses eram chamados de Elendili e foram conduzidos por Elendil e seus filhos Isildur e Anárion.
Depois de cem anos, Sauron lançou um ataque contra os Númenorianos exilados. Elendil formou a Última Aliança dos Elfos e dos Homens com o Elfo-rei Gil-galad. Marcharam de encontro a Mordor, derrotando os exércitos de Sauron na planície de Dagorlad e sitiaram a fortaleza Barad-dûr, onde Anárion morreu. Após sete anos sitiado, o próprio Sauron foi forçado a vir para fora e entrar num combate com os líderes. Gil-galad e Elendil foram mortos enquanto lutavam com Sauron e a espada de Elendil, Narsil, quebrou-se. O corpo de Sauron foi subjugado e morto e Isildur cortou o Um Anel de sua mão com que sobrara da espada, Narsil; quando isto aconteceu, o espírito de Sauron fugiu e não reapareceu por muitos séculos. Isildur foi aconselhado,por Elrond, a destruir o Um Anel arremessando-o no vulcão da Montanha da Perdição onde foi forjado, mas atraído pela sua beleza, Isildur preferiu conservá-lo para que fosse a herança de seu povo.
Começou assim a Terceira Era da Terra-média. Dois anos mais tarde Isildur e seus soldados foram atacados em uma emboscada por um bando de Orcs no que foi chamado posteriormente de Desastre dos Campos do Lis. Quase todos os homens foram mortos, mas Isildur escapou pondo o Anel, que torna invisível quem o coloca. Mas o Um traiu o seu portador, escapando do dedo de Isildur, que foi visto e flechado pelos orcs, e o Anel foi perdido por dois milênios.
Foi então encontrado, por acaso, no rio por um ancestral dos hobbits chamado Déagol. Seu parente e amigo Sméagol o estrangulou para roubar o Anel. Sméagol fugiu para a Montanhas Sombrias depois de ter sido expulso de casa, e nas raízes das montanhas se transformou numa criatura repulsiva e nojenta chamada Gollum.
Em O Hobbit, aproximadamente 60 anos antes dos eventos do Senhor dos Anéis, Tolkien relacionou a história do encontro aparentemente acidental do Anel por um outro hobbit, Bilbo Bolseiro, que o leva para sua casa, o Condado. Foi somente durante a criação de O Senhor dos Anéis que Tolkien relacionou as histórias. Nem Bilbo nem o mago Gandalf estavam cientes neste momento que o anel mágico de Bilbo era o Um Anel, forjado pelo senhor do escuro, Sauron.
A saga do Anel conta, no final da Terceira Era, a luta entre os povos livres da Terra-média contra Sauron, que procura pelo Um Anel e tem o intuito de dominar toda a Terra-média, assim como seu mestre, Morgoth, tentara anteriormente.  

A Irmandade do Anel (A Sociedade do Anel)

O Senhor dos Anéis - A Sociedade do Anel
Frodo Bolseiro é um hobbit do Condado, que recebe de seu tio Bilbo um anel de rara beleza. Esse anel tem uma longa história: foi roubado de uma criatura chamada Gollum (como relatado no livro O Hobbit), e desde então ele tem sido guardado por Bilbo.
o Mago Gandalf, um velho amigo de Bilbo, percebe o poder que aquele anel possui, não sendo um anel comum, mas sim o Um Anel, artefato mágico forjado por Sauron, o Senhor do Escuro, e que fora perdido numa batalha muito tempo antes. Se recuperado, o Um Anel permitiria a Sauron o domínio definitivo sobre toda a Terra-média. O Um Anel, ou Anel do Poder, dera longevidade fora do comum a seu antigo dono, Bilbo, e possuia consciência, uma vontade própria que o conduzia sempre na direção do seu criador e senhor. Gandalf aconselha Bilbo a deixar o Condado, planejado para ocorrer até a festa de aniversário daquele ano. Gandalf parte, para resolver alguns assuntos, mas combinando que voltaria para acompanhar Frodo, porém, não manda notícias durante vários meses. Chegando a data prevista, Bilbo decide deixar o Condado e deixa tudo para Frodo. Depois de um tempo, Gandalf retorna e convence Frodo a partir para destruir o anel, após vender Bolsão,Frodo leva consigo seus amigos Sam, Merry e Pippin para sua aventura.
Os hobbits resolvem pegar um atalho que passa através da Floresta Velha, lar de árvores que se comunicam entre si. Dentro da Floresta, os hobbits são salvos de uma árvore violenta por um estranho ser que adora cantar: o enigmático Tom Bombadil, um dos maiores mistérios de Tolkien.
Passando por outros perigos, os hobbits chegam a Bree, uma vila habitada por Homens e hobbits, perto da fronteira do Condado, e lá aceitam a ajuda de um Guardião chamado Passolargo, amigo de Gandalf, que os guia até Rivendell, um reino ainda habitado por elfos, seres imortais, detentores de grande poder, beleza e sabedoria. Mas o caminho ainda é perigoso: o grupo é emboscado no Topo do Vento e Frodo acaba apunhalado por um Nazgûl, Espectro do Anel. Passos de Gigante consegue repelir a ofensiva do Inimigo e foge com Frodo, que está gravemente ferido, e os outros hobbits. Quando estão a ser novamente alcançados pelos Espectros do Anel, o elfo Glorfindel encontra-os e condu-los em segurança até Valfenda. Os Nazgûl tentam detê-los mas são varridos pela inundação súbita do rio Baraduin.
Já curado, Frodo descobre as maravilhas de Valfenda e lá é realizado um conselho liderado por Elrond, o meio-elfo mestre de Rivendell e pai de Arwen, a amada de Passos de Gigante, cujo verdadeiro nome é Aragorn, que se revela descendente de Isildur e herdeiro do Trono de Gondor.
No Conselho de Elrond são expostos os problemas relacionados ao Um Anel. Boromir, filho do regente de Gondor, sugere usar o Anel do Poder contra Sauron. Elrond e Gandalf rejeitam a ideia imediatamente e explicam os vários motivos pelos quais não podem usá-lo contra o "Senhor dos Anéis": Sauron é o único e verdadeiro mestre do Anel, pois o forjou, sendo portanto totalmente maligno, além disso, seu poder é grande demais para ser controlado por mortais comuns e mesmo os poderosos entre os povos livres da Terra-Média, como os imortais elfos (Elrond) e os magos (Gandalf), temem inclusive tocá-lo. O poder quase absoluto do anel corrompe o carácter e deforma a personalidade daquele que se atreve a empunhá-lo, ainda que movido por boas intenções. Quem quer que tente derrotar Sauron utilizando o anel, acabará tornando-se o próximo Senhor do Escuro.
Dada a impossibilidade de utilizar o Um Anel como arma de guerra, é imposta a tarefa de levá-lo até a Montanha da Perdição, um vulcão localizado no centro de Mordor, a Terra Negra do Inimigo, onde o anel fora forjado e também o único lugar onde poderia ser destruído.
Para essa missão, de sucesso improvável, é formada a Irmandade do Anel, composta por nove companheiros:quatro hobbits (Frodo,Sam,Merry e Pippin), dois humanos (Aragorn e Boromir), um elfo (Legolas), um anão (Gimli) e um mago (Gandalf). Frodo seria o Portador do Anel, aquele que deveria lançar o Anel nos fogos de Orodruin.
Frodo Bolseiro
A Irmandade do Anel parte em direção a Sul. Cientes que essa rota está sendo vigiada pelo Inimigo, o grupo faz um desvio para Leste através das Montanhas Nebulosas, mas são obrigados a voltar por causa da neve e do frio. Um caminho alternativo leva-os até a temida Moria, reino subterrâneo dos anões, onde Gandalf é morto lutando com um Balrog, um demónio do mundo antigo. Os outros companheiros escapam e chegam em segurança a Lothlórien, reino da rainha élfica Galadriel, temida por seu poder mas dotada de rara beleza e sabedoria. Nesse reino encantado, onde o tempo parece não passar, os viajantes recebem auxílio e conselhos. Após algumas semanas de descanso, a Irmandade do Anel, agora liderada por Aragorn, parte de Lothlorien em direção a Sul, navegando pelo grande rio Anduin em canoas construídas pelos elfos da Floresta Dourada. Quando param para descansar próximo às cataratas de Rauros, Boromir tem uma discussão com Frodo, e tenta roubar-lhe o Anel do Poder. Frodo foge e decide ir sozinho para Mordor, mas acaba levando Sam. Quando os outros membros da Irmandade do Anel vão em busca de Frodo, são atacados por Uruk-hai (sub-espécie de Orc, mais alta e forte) enviados por Saruman, um mago renegado que se aliou a Sauron, mas que também ambiciona o Anel do Poder.
Na luta que se segue, a Irmandade é rompida:Merry e Pippin são capturados pelos uruk-hai, Boromir morre ao defendê-los, Aragorn, Legolas e Gimli decidem resgatar os hobbits aprisionados, Frodo e Sam partem sozinhos para a Montanha da Perdição

As Duas Torres

O Senhor dos Anéis - As Duas Torres
Aragorn, Legolas e Gimli seguem os rastros dos hobbits capturados (Merry e Pippin) e o caminho condu-los até a Floresta de Fangorn. Nela encontram o Mago Branco que inicialmente pensam ser Saruman, o traidor. No entanto, o velho enigmático revela-se Gandalf, que morreu enfrentando o Balrog e retornou da morte para cumprir sua missão na Terra-Média. Os quatro seguem então para Rohan, Terra dos Cavalos. Sua capital Edoras fica no alto de uma colina, onde os rohirrim ergueram Meduseld, O Palácio Dourado. Nele vive o rei Théoden , cuja mente fora envenenada por Saruman através de um agente infiltrado, o conselheiro Gríma Língua-de-cobra. Gandalf expulsa Grima, cura o rei de seus males, e o aconselha a enfrentar a ameaça de Saruman e partir rumo a Isengard, fortaleza de Saruman, com todos os guerreiros disponíveis.
Enquanto isso, os hobbits Merry e Pippin conseguem escapar dos uruk-hais, e fogem para o interior da Floresta de Fangorn. Lá encontram Barbárvore, um Ent, um gigante em forma de árvore, e cujas origens remontam a tempos muitíssimo mais antigos que a Terceira Era, na qual se passa essa história.
Barbárvore leva Merry e Pippin a sua casa, onde descansam enquanto os Ents são convocados para uma reunião (o "Entebate") no qual se discute, na lentíssima língua dos ents, o que fazer com o Inimigo Saruman. Os Ents decidem ir à guerra e partem rumo a Isengard. Os Ents invadem a fortaleza de Saruman, massacram os odiados orcs, que haviam derrubado muitas árvores de Fangorn, e apagam as fornalhas de Isengard desviando o curso do Rio Isen. Todo o círculo de Orthanc é inundado, ficando Saruman isolado pelas águas em sua Torre de pedra.
De volta a Rohan, o rei Theoden envia velhos, mulheres e crianças para a segurança do Templo da Colina, um refúgio nas montanhas, enquanto os cavaleiros de Rohan partem em direção a Isengard. Entretanto, são obrigados a fazer um desvio que os leva até o Abismo de Helm, um estreito desfiladeiro onde os rohirrim construíram uma fortaleza de pedra (o Forte da Trompa"). Nela, as tropas de Rohan buscam refúgio mas acabam sitiadas pelos Uruk-hai de Saruman. Após horas de batalha sangrenta, os orcs são derrotados com a ajuda de outras tropas de Rohirrim, trazidas por Gandalf. Os Orcs remanescentes fogem mas são massacrados pelos Huorns, Ents mais arvorescos, que buscam vingança pela destruição da Floresta de Fangorn.
Finda a Batalha do Abismo de Helm, o rei Theoden, Gandalf, Aragorn, Legolas e Gimli, cavalgam até Isengard. Ao chegarem lá, encontram Merry e Pippin sãos e salvos, e surpreendem-se com os hobbits se fartando com as provisões de comida, vinho e fumo da fortaleza do Inimigo. Numa última e desesperada tentativa, Saruman procura seduzir o grupo com sua voz persuasiva, quase hipnótica, mas Gandalf anula o feitiço e ainda o expulsa da ordem dos Istari, quebrando seu bastão. Nesse momento, Gríma língua-de-cobra atira da Torre de Orthanc um Palantír, pedra vidente que é capaz de comunicar-se com outras semelhantes. Gandalf recolhe-a para posterior averiguação.
À noite no acampamento, Pippin, em sua incontrolável curiosidade, agarra o Palantír e olha para o seu interior, e numa visão, vê o próprio Sauron, mas por sorte não revela nada dos planos dos povos livres, e ainda vê uma parte dos planos do Senhor dos Anéis: seu primeiro ataque será contra a capital do Reino de Gondor, a cidade de Minas Tirith.
Gandalf parte então com Pippin para Minas Tirith a fim de alertar Gondor da guerra iminente, encerrando assim a primeira parte de As Duas Torres.
A segunda parte do livro, que fala sobre Frodo e Sam, inicia-se com a captura de Gollum. Em troca de sua liberdade, ele promete levar os dois até Mordor, onde fica a Montanha da Perdição. Assim é feito.
Mas Gollum não é totalmente fiel, nem totalmente sincero. Apenas Sam é capaz de perceber suas verdadeiras intenções. Gollum é uma criatura velha e "pegajosa" que já foi um hobbit, mas que foi possuído pelo poder do Um Anel, e jamais conseguiu libertar-se dessa atração: um lado de sua personalidade dividida quer levar os hobbits até Mordor em segurança, mas a outra pretende matá-los e apossar-se do Anel que lhe foi roubado.
Atravessando vários lugares, os hobbits são guiados até o Portão Negro de Mordor, mas este está fechado, e os hobbits, conduzidos por Gollum, seguem outro caminho.
Ao pararem para descansar e comer, Frodo e Sam testemunham uma batalha entre Homens de Gondor e os Haradrim, aliados de Sauron. Gollum desaparece e os hobbits são capturados por uma patrulha chefiada por Faramir, irmão de Boromir. Frodo e Sam são levados até um esconderijo situado atrás de uma cachoeira onde Sam inadvertidamente revela o objetivo da missão (a destruição do anel do poder).
Frodo repreende Sam e teme que Faramir seja como seu falecido irmão e queira tomar o anel para si. Entretanto, para sua surpresa, Faramir revela grande força de caráter e nobreza de coração, e os liberta para que possam cumprir sua tarefa.
Os hobbits reiniciam sua jornada para Mordor, com Gollum como seu guia, e decidem atravessar as montanhas através de Cirith Ungol, local de má fama, considerado maldito e perigoso. Este caminho os leva até uma escada talhada em um paredão de rocha, que termina num túnel. O plano de Gollum, que se rendeu ao mal, é guiá-los através desse túnel e lá dentro entregá-los a Laracna, uma aranha gigantesca, descendente da terrível Ungoliant. O esquema de Gollum funciona em parte: Frodo é picado por Laracna, mas Sam luta desesperadamente contra o terrível aracnídeo e acaba derrotando-o com um golpe de espada num ponto fraco de sua couraça.
Legolas
Convicto da morte de Frodo, Sam decide assumir o fardo do anel e completar a missão de seu mestre. Nesse ínterim, uma patrulha de orcs se aproxima, e Sam volta para evitar que o cadáver de Frodo vire carniça de orcs. Sam ouve a conversa dos servos de Sauron e tem um choque ao saber que Frodo na verdade não estava morto, apenas inconsciente.As Duas Torres termina com os orcs levando o adormecido Frodo para a Torre de Cirith Ungol e com o Hobbit Samwise Gamgee em desespero, que tem de escolher entre continuar a missão do Anel ou tentar salvar Frodo das garras dos orcs.

O Regresso do Rei (O Retorno do Rei)

O Senhor dos Anéis - O Retorno do Rei
 Gandalf e Pippin entram na cidade de Minas Tirith, onde se encontram com Denethor, regente do reino de Gondor. Gandalf o avisa da guerra próxima, e o regente pede a ajuda de Rohan, mas revela seu rancor por Aragorn, que, sendo descendente direto do último rei, é o herdeiro legítimo do trono de Gondor. Merry, entretanto, permanece com os rohirrim, para servir ao rei Théoden, que reune todos os guerreiros aptos de seu reino e parte para a guerra em Minas Tirith. Junto com ele vão Aragorn, Legolas e Gimli.
Enquanto isso, Sam penetra na torre de Cirith Ungol, e resgata Frodo, que era mantido prisioneiro. Com muita sorte, ambos escapam dos muitos orcs, e adentram Mordor, uma imensa terra devastada, coberta de pó, cinza e fogo, cujo próprio ar é carregado de fumaça venenosa.
Após receberem uma mensagem de Elrond, Aragorn, Legolas e Gimli deixam o exército de Rohan e viajam então para as Sendas dos Mortos. Lá Aragorn convoca um exército de almas penadas/ mortos-vivos (o livro não deixa muito claro) a cumprirem um antigo juramento de lealdade para com Isildur, o primeiro rei de Gondor e seu ancestral direto. Os mortos haviam jurado lutar ao lado de Gondor mas fugiram para as montanhas quando foram chamados à guerra. Isildur então os amaldiçoou a não terem paz, nem na vida nem na morte, até que sua promessa fosse cumprida.
Quando a guerra se abate sobre Gondor, o exército dos mortos, liderado por Aragorn, liberta um porto no grande rio Anduin, dominado pelos Haradrim (habitantes do sul da Terra-Média), o que permite o embarque de tropas aliadas que vão em auxílio de Minas Tirith, sitiada pelas Tropas de Sauron. Terminada a batalha dos Campos do Pelennor,que ainda não fora a batalha definitiva, os exércitos de Gondor e Rohan, marcham rumo ao Portão Negro de Mordor. O objetivo da arriscada manobra é atrair os exércitos remanescentes do Inimigo e esvaziar a Terra Negra, possibilitando a passagem de Frodo e Sam até a Montanha da Perdição, onde o Anel do Poder poderia ser destruído.
Tudo ocorre como previsto: os exércitos de Mordor caem na armadilha. Frodo e Sam conseguem passar, todavia antes de entrarem na Montanha da Perdição, encontram Gollum em seu caminho. Os hobbits se separam, Frodo adentra as Fendas da Perdição, uma câmara no vulcão que dá acesso à lava chamejante. Quando já está à beira do precipício, surpreendentemente, Frodo é dominado pelo Anel do Poder e o reivindica para si: "o anel é meu, não vou destruí-lo!". Nisso, Gollum intervém, ele e Frodo lutam ferozmente, até que Gollum arranca o anel das mãos de Frodo. Gollum escorrega e cai acidentalmente (ou não) na lava ardente, levando consigo o Um Anel, que é destruído, assim como Sauron, cujo espírito estava vinculado ao anel, e seus servos orcs, que dependiam de sua força e comando.
Aragorn então assume o trono de Gondor com o nome élfico Elessar, sendo coroado Rei por Gandalf, e se casa com a meia-elfa Arwen. Tem início assim a Quarta Era, a era do Domínio dos Homens. Os elfos remanescentes da Terra-Média decidem partir para Aman, morada dos deuses Valar.
O Um Anel
Os quatro Hobbits então retornam para o Condado, tendo que enfrentar um último inimigo: Saruman que se apossou do Condado. Mas o mago acaba morto pelas mãos de Grima Língua-de-cobra, e a paz volta à terra dos hobbits.
O livro termina com a partida para as Terras Imortais (Aman) de Gandalf, Galadriel, Elrond assim como dos hobbits Frodo e seu tio Bilbo, que, embora mortais, conquistam o direito de viver o resto de seus dias junto aos Elfos e aos Valar, como reconhecimento de sua lealdade e sacrifício durante a Guerra contra Sauron e por terem sido portadores do Anel Um.

A escrita da obra-prima

O Senhor dos Anéis foi iniciado como um sequência para o Hobbit, história publicada em 1937 que Tolkien tinha escrito e tinha sido lida originalmente por muitos jovens. A popularidade de O Hobbit levou seu editor a pedir por mais histórias sobre hobbits, de modo que o mesmo ano Tolkien, com 45 anos de idade, começou a escrever a história que se transformaria no Senhor dos Anéis. A história não seria terminada até 12 anos mais tarde, em 1949, e não foi publicado antes de 1954, quando Tolkien tinha 63 anos de idade.
Tolkien originalmente não pretendia escrever uma sequência para O Hobbit, e nesse tempo dedicou-se mais a histórias infantis, tais como Roverandom e Mestre Gil de Ham. Como seu trabalho principal, Tolkien esboçava a história de Arda, das Silmarils e das raças que habitavam a Terra. Tolkien morreu antes de terminar e unir este trabalho, conhecido hoje como o Silmarillion, mas seu filho Christopher Tolkien editou o trabalho do seu pai e publicou-o em 1977. Alguns biógrafos de Tolkien consideram O Silmarillion como o verdadeiro "trabalho de seu coração", fornecendo o contexto histórico e linguístico para seu trabalho mais popular e para suas línguas criadas, que ocupavam a maior parte do tempo de Tolkien. Em consequência O Senhor dos Anéis terminou acima dos últimos movimentos do legendário de Tolkien e em sua própria opinião "muito maior, e eu espero também na proporção do melhor, do ciclo inteiro."
As Estátuas de Isildur e Anárion
Persuadido por seus editores, começou "um novo Hobbit" em dezembro de 1937. Depois que diversos começos falsos, a história do Um Anel logo emergiu e o livro mudou de uma sequência do Hobbit, para mais uma sequência do ainda não publicado Silmarillion. A criação do primeiro capítulo (Uma festa muito esperada) sucedeu bem, embora as razões por atrás do desaparecimento de Bilbo, do significado do anel e do título do Senhor dos Anéis não chegassem até a primavera de 1938. Originalmente, planejou escrever uma outra história em que Bilbo tinha esgotado todo seu tesouro e procurava uma outra aventura para ganhar mais; entretanto, recordou-se do anel e seus poderes e decidiu-se escrever preferivelmente sobre ele. Começou com o Bilbo como personagem principal, mas decidiu-se que a história era demasiada séria usar um hobbit divertido e amoroso e assim que Tolkien procurou usar um membro da família de Bilbo. Pensou sobre usar um filho de Bilbo, mas isto gerou algumas perguntas difíceis, tais como local onde encontrou sua esposa e se esta deixaria seu filho entrar em perigo. Assim procurou um personagem alterno para carregar o anel. Nas legendas gregas, era o sobrinho do herói que ganhava o artigo de poder, e assim que o hobbit Frodo surgiu.
A escrita era lenta devido ao perfeccionismo de Tolkien e foi interrompida frequentemente, por suas obrigações como professor e por outros deveres acadêmicos.
Ele abandonou O Senhor dos Anéis durante a maior parte de 1943 e o reiniciou somente em abril de 1944. Christopher Tolkien, filho de Tolkien, e C.S. Lewis, autor de As Crônicas de Nárnia, seu grande amigo, recebiam notícias sobre a história frequentemente - Tolkien enviava para o filho uma série de cópias dos capítulos enquanto os escrevia, quando Christopher estava servindo na África do Sul na Força Aérea Real. Prosseguiu outra vez em 1946, e mostrou uma cópia do manuscrito a seus editores em 1947. A história foi eficazmente terminada o ano seguinte, mas Tolkien não terminou de revisar as últimas partes do trabalho até 1949.
Uma disputa com seus editores Allen & Unwin fez com que Tolkien oferecesse o livro à Collins em 1950. Tolkien pretendia que o Silmarillion (com a maior parte ainda não revisada até neste momento) fosse publicado junto com O Senhor dos Anéis, mas a Allen & Unwin se recusava a fazer isto, e mais: queriam que O Senhor dos Anéis fosse dividido em três partes para baratear os custos. Depois que seu contato em Collins, Milton Waldman expressou a opinião de que O Senhor dos Anéis "necessitava urgentemente de uma redução", e exigiu finalmente que o livro fosse publicado em 1952. Não fizeram isso, e assim Tolkien escreveu a Allen & Unwin novamente, dizendo que "consideraria satisfatoria a publicação de qualquer parte do material.". Desse modo, A Sociedade do Anel e As Duas Torres foram publicados em 1954 e O Retorno do Rei, depois de revisões nos apêndices, foi publicado em 1955.

Publicação

Gandalf - O Branco
Na publicação, a maior parte dos custos foi devido à falta (e preço) do papel no pós-guerra, mas para manter o preço baixo da primeira edição, o livro foi dividido em três volumes: A Sociedade do Anel, publicado em 1954, As Duas Torres, publicado alguns meses depois, O Retorno do Rei e mais seis apêndices, publicado em 1955. O atraso na produção dos apêndices, dos mapas e especialmente os índices resultou que fossem publicados mais tarde do que esperado - em 21 de julho de 1954, em 11 de novembro de 1954 e em 20 de outubro de 1955, respectivamente, no Reino Unido. O Retorno do Rei foi especialmente atrasado. Tolkien inclusive não gostou muito do título de O Retorno do Rei, acreditando que era demasiado afastado da linha da história. Tinha sugerido originalmente o título A Guerra do Anel, que foi rejeitada por seus editores.
Os livros foram publicados sob um arranjo de "partipação nos lucros", por meio do qual Tolkien não receberia um adiantamento ou direitos autorais até que os livros cobrissem os gastos, depois do qual teria uma parte grande dos lucros. Um índice para os três volumes, que viria no fim do último, já fora prometido à época do lançamento do primeiro volume, mas provou-se ser imprático para compilá-lo num período razoável. Em 1966, quatro índices, não compilados por Tolkien, foram adicionados ao Retorno do Rei.

A voz dos críticos

O Senhor dos Anéis sempre foi um livro bastante controverso. Sob rótulos de "Lixo Juvenil", mas também alumiado por elogios fervorosos, essa obra ainda sobrevive para que possa receber as mais diversas opiniões.
Começando pelas críticas favoráveis, destacamos algumas das mais importantes.
O jornal Sunday Telegraph se manifestou à época do lançamento do livro dizendo que ele estava "entre os maiores trabalhos de ficção do século XX". A conclusão parecida, conquanto mais teatral, chegou o Sunday Times, afirmando que "o mundo do Inglês está dividido entre aqueles que leram O Senhor dos Anéis e O Hobbit, e aqueles que ainda vão ler".
W.H.Auden escreveu ao New York Times: "A primeira coisa que pedimos é que a aventura seja […] empolgante; sob este aspecto a inventividade do Sr. Tolkien é incansável […e] o leitor exige que pareça real […] O Sr. Tolkien tem a sorte de possuir um espantoso dom de dar nomes e um olho […] exato para descrições. […] O conto mostra no espelho a única natureza que conhecemos: a nossa própria; também nisto o Sr. Tolkien teve um êxito soberbo. O que ocorreu no Condado […] na Terceira Era […] não somente é fascinante em A.D. 1954, mas é também um alerta e uma inspiração." Sobre a capacidade de inventar nomes, O Senhor dos Anéis conta com 301 nomes de pessoas e animais, e 433 nomes de lugares.
Donald Barr falou, no New York Times também, sobre uma coisa que Tolkien muito amava: "O Sr. Tolkien é um afamado filólogo britânico, e a linguagem de sua narrativa nos recorda que um filólogo é um homem que ama a língua."
Arwen Undomiel
E John Gardner escreve sobre o livro, falando sobre "a rica caracterização, o brilho imagético, um senso de lugar vigorosamente imaginado e detalhado, e [a] aventura brilhante."
Mas nem tudo era elogios. Richard Jenkyns escreveu ao The New Republic que os personagens e o próprio trabalho de Tolkien são "anêmicos, e carentes de fibra".
A crítica mais ácida veio talvez de Edmund Wilson, ao The Nation: "Ficamos perplexos ao pensar por que o autor terá suposto que escrevia para adultos. […] Exceto quando é pedante e também aborrece o leitor adulto, há pouca coisa no Senhor dos Anéis acima da inteligência de uma criança de sete anos. […]A prosa e o verso estão no […] nível de amadorismo profissional. […]Os personagens falam uma língua de livro de histórias […e] não se impõe como personalidades. Ao final deste […] romance, eu ainda não tinha uma concepção do mago Gandalph [sic]. […] Esses personagens estão envolvidos em intermináveis aventuras, a pobreza de invenção demonstrada nas quais, é […] quase patética. […] Como é que esses extensos volumes de […] baboseiras provocam tais tributos […]? A resposta […] é que certas pessoas […] têm um apetite vitalício por lixo juvenil."."
Ronald Kyrmse, um dos maiores especialistas brasileiros em Tolkien e autor do livro Explicando Tolkien, rebate a crítica da "língua de livro de histórias" dizendo que: "Não só Tolkien cria nomes e frases como ninguém, mas os idiomas élficos são testemunha da sua habilidade linguistica." e sobre a tal "pobreza de imaginação patética", Kyrmse afirma que "Tolkien não fez outra coisa na sua vida literária senão criar uma mitologia. […] O problema de Tolkien é que os críticos não têm com o que compará-lo, pelo menos na literatura contemporânea. Isso gera uma incompreensão que os leva a rejeitá-lo."

Influência

Aragorn
O Senhor dos Anéis começou como uma exploração pessoal de Tolkien de seus interesses na Filologia, religião (particularmente Igreja Católica), Contos de fadas, assim como a Mitologia nórdica, mas também foi influenciado, de forma crucial, pelos fatos que ocorreram em seu serviço militar durante a Primeira Guerra Mundial. Tolkien criou um universo fictício completo e altamente detalhado (Eä), onde O Senhor dos Anéis se passa, e muitas partes deste mundo eram, como ele admitia livremente, influenciado por outras origens.
Uma vez, Tolkien descreveu O Senhor dos Anéis ao seu amigo, o padre jesuíta Robert Murray, como "um trabalho fundamentalmente religioso e Católico, inconscientemente no início, mas ciente disso na revisão [do livro]." Há muitos temas teológicos subjacentes na narrativa, incluindo a luta de bem contra o mal, o triunfo do excesso vaidade na humanidade e a atividade da Graça Divina. Além disso o trecho do Pai Nosso "e não nos deixeis cair em tentação, mas livrai-nos do mal" esteva sempre presente na mente de Tolkien quando descreveu luta de Frodo de contra o poder do Um Anel.
Os motivos religiosos não-cristãos também tiveram fortes influências na Terra-média de Tolkien. Os Ainur, uma raça de seres angelicais que foram responsáveis pela concepção do mundo, incluíam os Valar, que formam um panteão de "deuses" quem são responsáveis por toda a manutenção do Mundo em seus aspectos materiais e abstratos. O conceito dos Valar ecoa na mitologia grega e nórdica, embora os próprios Ainur e o mundo sejam criações de uma divindade sozinha - Ilúvatar ou Eru, "O Único".
As mitologias do norte europeu são talvez as mais bem conhecidas influências não-Cristãs em Tolkien. Seus elfos e anões são parecidos e muito baseados na mitologia nórdica e relacionados à mitologia germânica. Os nomes tais como "Gandalf", "Gimli" e "Terra-média" são derivados diretamente do mitologia nórdica. A figura de Gandalf é particularmente influenciada pela divindade germânica Odin em sua encarnação como "O Viajante", um homem velho com uma longa barba branca, um chapéu de bordas largas e uma cajado; Tolkien declarou que pensava em Gandalf como um "Odin errante" em uma carta de 1946. As influências específicas incluem o poema Anglo-Saxão Beowulf.
O Senhor dos Anéis foi fortemente influenciado pelas experiências de Tolkien durante a Primeira guerra mundial, onde lutou, e pela partida de seu filho para lutar Segunda guerra mundial.
Depois da publicação de O Senhor dos Anéis, devido à sua influência ocorreu a especulação que o Um Anel fosse um metáfora da bomba nuclear. Tolkien, entretanto, insistiu repetidas vezes que seus trabalhos não apresentavam aquele tipo de alegoria, indicando no prefácio de O Senhor dos Anéis que não havia gostado desta especulação e que a história não era alegórica. Tolkien já tinha terminado grande parte do livro, incluindo o final, antes que as primeiras bombas nucleares tivessem sido conhecidas pelo mundo, com sua explosão em Hiroshima e em Nagasaki em agosto de 1945.
Alguns locais e suas características foram inspiradas em locais da infância de Tolkien como Sarehole (então uma vila de Worcestershire, agora parte de Birmingham) e Birmingham. Tolkien sugeriu que o Condado e suas redondezas eram baseados nos campos em torno da faculdade de Stonyhurst em Lancashire, que Tolkien frequentou durante a década de 1940.

Adaptações do livro

O livro já foi adaptado para o rádio, o cinema e televisão e os palcos.

No rádio

O livro foi adaptado para o rádio três vezes. Em 1955 e em 1956, a BBC passou O Senhor dos Anéis, uma adaptação em doze partes da história para o rádio, da qual nenhuma gravação sobrou. Em 1979, uma dramatização da história foi transmitida nos Estados Unidos e depois colocadas em fita e CD. Em 1981, a BBC transmitiu uma nova dramatização em 26 partes de meia hora.

Na tela

Éomer - Filho do Rei Théoden
 As adaptações para a tela incluem uma animação em 1978, quando Ralph Bakshi produziu a primeira versão em desenho animado sobre o Senhor dos Anéis. A produção não foi um sucesso. Seguindo o enredo de A Sociedade do Anel e de As Duas Torres, devia ser dividido em duas partes. O desenho tinha muitos cortes e a qualidade da animação não era muito boa, mas serviu como uma alavanca para uma maior abrangência dos livros. Porém, mesmo e principalmente entre os fãs, nunca houve grande aceitação sobre essa animação. A outra parte, O Retorno do Rei, em 1980, foi um especial animado para a TV por Rankin-Bass, que tinha produzido uma versão similar a O Hobbit em 1977.
Em 1999, o diretor Peter Jackson resolveu adaptar O Senhor dos Anéis para o cinema. A trilogia foi filmada simultaneamente, e está entre os recordes de bilheteria, além de ter acumulado dezessete Oscars, 4 para o primeiro, 2 para o segundo e 11 para o terceiro. A empresa que realizou os filmes chama-se WETA Workshop Ltd..
Os direitos dos filmes e do enredo estão em poder da Electronic Arts, para fazer jogos de computador e para videogames.
Para mais informações confira:
  • The Lord of the Rings: The Fellowship of the Ring (2001)
  • The Lord of the Rings: The Two Towers (2002)
  • The Lord of the Rings: The Return of the King (2003)

Nos palcos

Já houve muitas produções teatrais baseadas nos livros. Três foram apresentadas em Cincinnati, Ohio, Estados Unidos: A Sociedade do Anel (2001), As Duas Torres (2002) e O Retorno do Rei (2003). Um musical de O Senhor dos Anéis foi apresentado em 2006 em Toronto, Ontário, Canadá.